quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A Importância do Controle do Oxigênio Dissolvido no Tratamento Aeróbio de Efluentes



O oxigênio dissolvido é o agente oxidante mais importante do meio aquático. Sua carência prejudica a qualidade das águas, causando transtornos como a anaerobiose e geração de odores. Nas estações de tratamento aeróbio de efluentes, a exemplo dos processos de lodo ativado, não faltam motivos para o controle da concentração de oxigênio dissolvido nos reatores.


O efluente que chega ao tanque de aeração, trazendo grande quantidade de matéria orgânica - quantificada pela DBO – irá alimentar a população bacteriana existente no lodo ativado. É assim que, na presença de oxigênio fornecido e de nutrientes, as bactérias liberam enzimas para decompor a matéria orgânica e integrá-la ao seu organismo. Essa assimilação do alimento e a correspondente reprodução bacteriana resultam no aumento da biomassa que logo requer um controle de suas características e quantidades para manutenção da eficiência do processo. Veja mais sobre a configuração de um sistema convencional de lodo ativado.

Mecanismo de depuração da matéria orgânica

Considerando que grande parte da biomassa existente nos reatores é formada por seres vivos (flocos de bactérias, protozoários e outros micróbios), logo percebemos a importância do oxigênio nessa relação.

Os micro-organismos consumem o oxigênio de duas maneiras distintas. Na respiração exógena, o consumo ocorre durante a degradação do substrato externo à célula bacteriana – como apresentado acima. Na respiração endógena, seu consumo se dá pela degradação do substrato da própria célula bacteriana.

Para ilustrar, extraímos um tópico sobre a sequência de transferência de oxigênio do livro “Tratamento de Efluentes nas Indústrias de Papel e Celulose – Alguns Conceitos Básicos e Condições Operacionais” de David Charles Meissner, que apresenta o seguinte:

Num sistema de tratamento de efluentes aeróbicos (lagoas ou tanques, com aeração facultativa ou forçada) são “criados” seres vivos dentro e como parte dos próprios flocos, com a finalidade de que eles “comam” a poluição contida no efluente. Deve-se manter em mente a sequência básica de transferência de oxigênio, que se resume em:

* A passagem do oxigênio no ar para dentro do efluente (dissolução de um gás num líquido);
* A passagem do oxigênio no efluente para dentro do floco (transferência de um gás num líquido para dentro de um sólido);
* A passagem do oxigênio no floco para dentro da bactéria ou outro micróbio (transferência de um gás num sólido para dentro de outro sólido) onde a “oxidação” dos poluentes efetivamente se inicia.

Percebe-se então que o oxigênio é o elemento chave para impulsionar o mecanismo de decomposição da matéria orgânica em uma estação de tratamento de efluentes. Daí a necessidade de ter seu fornecimento monitorado e controlado. É por isso que são avaliadas as demandas biológicas e químicas de oxigênio, juntamente com as cargas a montante dos reatores secundários. Esse procedimento possibilita saber o quanto será necessário de oxigênio dissolvido para as etapas seguintes no interior do tratamento biológico.

Sistemas de Aeração

A aeração de um processo biológico pode se dar por meios naturais ou artificiais. Nas lagoas de estabilização aeróbias ou facultativas o oxigênio é obtido naturalmente por difusão atmosférica e pela fotossíntese realizada pelas algas e bactérias em suspensão. Nos tratamentos de lodo ativado, o oxigênio pode ser introduzido na sua forma líquida de alta pureza ou através da injeção de ar atmosférico que contém cerca de 23% de oxigênio em sua composição. A introdução do ar é feita por dispositivos mecânicos de aeração como sopradores, compressores, difusores, ou aeradores mecanizados.

Aeração por ar difuso (B&FDias)
O sistema de aeração por ar difuso é o mais utilizado nos processos de lodo ativado e MBBR. Ele é o que melhor atende as necessidades aeróbias da biomassa (oxidação, síntese, respiração endógena e nitrificação).

Podemos encontrar mais detalhes sobre aeração, planejamento do layout, equipamentos, parâmetros operacionais, etc., no Manual de Tratamento de Efluentes Industriais, de José Eduardo W. de A. Cavalcanti (2016).



Porque controlar o oxigênio dissolvido no tratamento aeróbio de efluentes?

Como já foi dito no início desse blog, motivos não faltam para que se faça um controle da concentração de oxigênio dissolvido nos reatores biológicos. Com relação ao controle de processo – podemos dizer que: uma aeração excessiva causa distúrbios como a elevação do colchão de lodo nos decantadores secundários e o indesejável arraste de sólidos para fora do sistema de tratamento; por outro lado, um fornecimento de oxigênio aquém da demanda que não suporte a DBO afluente pode intumescer o lodo e também perturbar a eficiência do tratamento secundário.

Não podemos nos esquecer do aspecto econômico. Uma estação de tratamento de efluentes gera custos significativos para a empresa e um destes é o consumo de energia. Por isso que se torna muito importante o controle do fornecimento de oxigênio, que além de beneficiar o processo, também evita desperdícios, promovendo economia de energia elétrica em seu sistema operacional.

Em vista disso tudo, temos que, para que não falte e nem exceda, uma ETE deve operar com a margem de segurança estipulada no projeto da planta. Esse fator de segurança está associado aos picos de carga de DBO5 afluente ou a vazão máxima. Os sistemas de lodo ativado, por exemplo, costumam operar na faixa de 1,0 a 2,0 mg/L de OD excedente.

O volume 4 de Princípios do Tratamento Biológico de Águas Residuárias – Lodos Ativados, de Marcos Von Sperling, nos capítulos 3 e 5, traz mais detalhes sobre requisitos de oxigênio e sistemas de aeração.

De forma alguma deve ser negligenciado o fornecimento de oxigênio dissolvido nos processos aeróbios de tratamento de efluentes. O pessoal que cuida da operação da planta deve, portanto, evitar equipamentos defeituosos, desligamento acidental, falta de energia, controle inadequado da taxa de aeração, capacidade insuficiente de aeração e consumo excessivo de oxigênio. O correto atendimento a essas condições, facilita a operação e proporciona melhor desempenho do sistema.

Assim encerramos a série de blogs sobre os principais fatores ambientais internos que afetam os tratamentos biológicos de efluentes. Se desejar, o leitor poderá ver os outros blogs nos links: pH, temperatura e nutrientes.



Autor: José Leonardo Cardoso
Diretor Técnico da Biotrakti – Consultoria e Assessoria Técnica Ambiental

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