segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A Importância do Controle de Nutrientes no Tratamento de Efluentes

Neste terceiro blog da série ‘fatores ambientais internos que afetam os tratamentos biológicos de efluentes” vamos explorar a variável “nutrientes”. Em abril começamos com pH e em agosto foi a vez de estudar a temperatura ao longo de todo o processo.

Agora veremos os requisitos de nutrientes para que possa ocorrer a estabilização da matéria orgânica dentro do tratamento secundário de uma ETE de lodo ativado ou numa lagoa aerada.



Primeiro, devemos atentar para o fato de que cada edição desse blog raramente passa de duas laudas para que não fique exaustivo para o leitor. Dessa forma, devemos levar em consideração também que assuntos muito complexos devem ser melhor explorados na literatura aqui indicada. A propósito, as principais fontes de pesquisa para esta série se resumem apenas a três ou quatro que bastaram para desenvolver todo o tema, no entanto, o leitor encontrará muitas outras boas referências se resolver pesquisar mais.

Voltando ao assunto proposto, digamos que os micro-organismos que compõem o lodo ativado ou o lodo de uma lagoa aerada necessitam de certos nutrientes para realização de suas atividades metabólicas. O principal desses nutrientes é o carbono existente na matéria orgânica dos despejos líquidos. Mas para que a depuração da matéria orgânica ocorra de maneira satisfatória, promovendo o crescimento da biota, são necessários também outros elementos como o nitrogênio, o fósforo, o sódio, o potássio, o cálcio, o magnésio, etc.

Nos interessa aqui falar um pouco do nitrogênio e do fósforo, que são importantes macronutrientes na constituição da biomassa. E existe uma relação entre as quantidades necessárias desses elementos com a concentração de carbono orgânico existente nos efluentes.

Para a microbiologia marítima utiliza-se uma relação C: N: P de 106: 16: 1. Para o tratamento de efluentes foram feitas adaptações, considerando a quantidade do poluente orgânico existente no efluente – DBO5: N: P – onde a relação varia em função do tipo de projeto da ETE. Para sistema convencional de tratamento por lodo ativado aplica-se a relação 100 DBO5: 5 N: 1P; para sistema de lodo ativado por aeração prolongada teremos algo perto de 100 DBO5: 3,5 N: 0,5 P.

O esgoto doméstico quase sempre atende aos requisitos de nutrientes, dispensando dosagens adicionais. Aliás, será necessário ter um sistema de redução do nitrogênio total, onde ocorrerá a nitrificação e desnitrificação e em alguns casos precisará também de fazer a redução do fósforo - veja mais nos capítulos “Fundamentos da Desnitrificação Biológica” e “Fundamentos da Remoção Biológica do Fósforo” do volume 4 de Princípios do Tratamento Biológico de Águas Residuárias, de Marcos Von Sperling. Porém, para alguns efluentes industriais, como os da indústria de celulose e papel, sempre será necessário ajustar as concentrações de nitrogênio e fósforo do efluente bruto para atender as exigências do processo de lodo ativado.

Para que o nitrogênio possa ser assimilado pelos micro-organismos deve estar na forma de amônia e nitrato. O ajuste de sua concentração e da do fósforo no efluente bruto que chega ao tanque de aeração costuma ser feito através da dosagem de NH3, H3PO4 ou (NH4) 3PO4 nas formas anidra ou aquosa.

Abaixo apresentamos uma tabela encontrada no livro “Tratamento de Efluentes nas Indústrias de Papel e Celulose” de David Charles Meissner. Nela o leitor confere as diferentes formas de dosagem de nutrientes e algumas das vantagens e desvantagem relacionadas para cada sistema:



Mais à frente, em seu livro, David cita os problemas que poderão surgir, relacionados ao fornecimento de nutrientes no sistema de tratamento de efluentes. Falhas no equipamento de dosagem, como bomba parada ou entupimentos na linha de dosagem, poderão desestabilizar a estação, reduzindo a eficiência na remoção da carga poluente e promovendo arraste de sólidos junto ao efluente tratado.

De outra forma, se ocorrer a dosagem excessiva de nutrientes, haverá alteração na caracterização do efluente tratado e poderão surgir problemas legais e ambientais, além do aumento desnecessário de custos do processo.

A idade do lodo também impacta na concentração dos nutrientes. No sistema de aeração prolongada, quanto mais se retêm o lodo dentro do sistema, através da diminuição dos descartes, mais esse lodo irá mineralizar e liberar nutrientes na entrada dos reatores biológicos, durante sua recirculação. Daí aquelas diferentes relações de nutrientes citadas acima, para o sistema convencional de tratamento por lodo ativado e para a aeração prolongada.

Devido à necessidade de um bom controle de nutrientes para garantir a melhor eficiência na depuração da matéria orgânica dos efluentes, será igualmente necessário um criterioso controle analítico, com coleta adequada das amostras nos pontos certos de amostragem, dentro da frequência exigida para ajuste das dosagens.

O atento monitoramento e controle do sistema de dosagem de nutrientes ajuda muito na eficiência global da estação de tratamento dos efluentes industriais. Tenha certeza que essa preocupação deve fazer parte de uma boa rotina operacional para garantir a qualidade final do tratamento.


Autor:

José Leonardo da Silva Cardoso
Gestor Ambiental e Diretor Técnico da Biotrakti

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