A demanda bioquímica de oxigênio,
DBO, e a demanda química de oxigênio, DQO, são os parâmetros mais utilizados
para avaliação dos impactos ambientais causados pelo lançamento de efluentes
nos corpos hídricos. Eles representam métodos indiretos utilizados
para quantificar o potencial poluidor dos efluentes industriais e das águas
residuárias em geral. Daí a importância em se conhecer suas definições,
relações e utilizações dentro dos sistemas operacionais para controle de
processo de tratamento de efluentes, monitoramento, e atendimento as normas
vigentes para despejo do efluente tratado no corpo receptor.
Por isso é que se utiliza dessas
análises, ora para determinar a carga (kg DBO/hora ou kg DQO/hora) do despejo
afluente ao sistema de tratamento, ora para caracterizar o efluente tratado e indicar
a eficiência alcançada no tratamento ou ainda para caracterizar o corpo hídrico
receptor.
A análise de DBO5 (ou
simplesmente DBO) numa amostra de um fluido qualquer, tem sido a mais utilizada
como indicativo de seu potencial
poluidor e representa a quantidade em mg/L de oxigênio requerida pelos
micro-organismos para oxidação da matéria orgânica a uma forma estável
inorgânica, por um período de 5 dias, em local escuro e sob temperatura
constante de 20º C. Se o leitor desejar conhecer os detalhes do método
analítico, poderá consultar o item 5210 “Biochemical Oxygen Demand” no Standard
Methods for the Examination of Water and Wastewater, 20th Edition.
A conversão aeróbia da matéria
carbonácea que ocorre numa análise de DBO, pode ser expressa de forma
simplificada pela representação da fórmula molecular da glicose que se utiliza
do oxigênio dissolvido no meio e se estabiliza em produtos inertes como gás
carbônico e água, liberando energia:
Existem outras variantes da DBO, a saber:
- DBO20 (também conhecida como DBO última) que
representa a quantidade total em mg/L de oxigênio requerido pelos micro-organismos
para estabilização bioquímica da matéria orgânica ao fim de 20 dias. Essa
análise representa o primeiro estágio da demanda de oxigênio, onde são
estabilizados os compostos carbonáceos. É particularmente utilizada no
dimensionamento dos sistemas de aeração;
- DBOmax que representa o segundo estágio da demanda,
quando são metabolizados também os compostos nitrogenados. Os resultados destas
análises são alcançados em períodos superiores a 60 dias, conforme indica o
Manual de Projeto de ETEs de Patricio Gallegos Crespo;
- DBO solúvel que corresponde à demanda de oxigênio gerada pela
parcela orgânica dos sólidos filtráveis, ou seja, dos sólidos dissolvidos no
meio. Assim como a DBO particulada – abaixo-, é utilizada para dimensionamento
dos reatores biológicos;
- DBO particulada que corresponde à demanda de oxigênio gerada pela
parcela orgânica dos sólidos em suspensão (sólidos suspensos voláteis).
Por sua vez, as análises de DQO (Demanda Química de Oxigênio) numa
amostra de um fluido qualquer tal qual amostrada, expressam a quantidade em
mg/L de oxigênio necessário para oxidar a matéria orgânica na presença de um
agente químico forte oxidante, como o dicromato de potássio (K2Cr2O7),
em meio ácido. Detalhes do método são encontrados no item 5220 do Standard
Methods for the Examination of Water and Wastewater, 20th Edition. Também
utilizamos esse teste para medir a quantidade de matéria orgânica contida em
efluentes muito tóxicos, de difícil degradação, como no caso de inseticidas e detergentes.
Nesses casos, a depleção de oxigênio se apresenta incompleta nas análises de
DBO devido a não participação dos micro-organismos na digestão do material
tóxico, a exemplo dos sais minerais e de alguns materiais orgânicos de difícil
degradação biológica, como piridina e lignina, existentes nos efluentes industriais.
Conforme lembra David Meissner,
em troca de correspondência com nossa redação, a DQO começa a ter sua
importância ainda na fase de estudos para projeto de uma estação de tratamento
de efluentes. É através dela que
conhecemos os quatro componentes primários de carbono no efluente bruto que são
fundamentais para o projeto de plantas de lodo ativado e sua operação. São
estes:
- A) os componentes da DQO Biodegradável (BCOD) que se dividem em DQO Prontamente Biodegradáveis (RBCOD) e DQO
Lentamente Biodegradável (SBCOD) e,
- B) os componentes da DQO Não Biodegradável (UCOD) que se dividem em DQO Não Biodegradável
Solúvel (USCOD) e DQO Não Biodegradável Particulada (UPCOD).
O desconhecimento e falta desses
dados pode acarretar grandes consequências a uma ETE. O monitoramento de carga
carbonada apenas pelo uso da DBO5 piora a situação dentro de uma
planta de tratamento de efluentes. Em algum momento, será de extrema
necessidade o conhecimento dos diferentes componentes da matéria orgânica que
aflui para o sistema, para que se faça uma interpretação correta dos problemas que
prejudicam a eficiência do processo de tratamento e possibilite corrigi-los mais prontamente.
Marcos von Sperling (1998) destaca, entre outras vantagens já citadas
aqui, que o teste de DQO não é afetado pela nitrificação que ocorre nos
sistemas de tratamento de efluentes por lodo ativado. Como principal desvantagem,
a DQO oxida tanto a fração biodegradável quanto a inerte do efluente.
Geralmente é possível estabelecer
a correlação entre DQO e DBO e fazer a substituição da segunda pela primeira.
Além das questões de toxicidade e das incertezas das análises de DBO, cujos
resultados são bem menos precisos e exatos que os da DQO, essa substituição
agiliza a produção de resultados, pois temos aí 5 dias de espera pela DBO
versus 2:30 horas de espera pelos resultados da DQO. Esse procedimento é muito
útil em indústrias como as de celulose e papel que produzem efluentes muito
recalcitrantes. Mas observe que, se no chão de fábrica a DQO pode ser um
parâmetro utilizado internamente para ajustes de processo, o mesmo não ocorre
com relação aos órgãos de controle ambiental que preferem sempre ter em mãos os
resultados da DBO.
A propósito, no estado de São
Paulo, o lançamento de efluentes líquidos deve atender a Resolução 430 do
CONAMA e ao Decreto Estadual 8468/76 para garantir que os Valores Máximos
Permitidos de um conjunto de parâmetros inorgânicos e orgânicos atendam às
exigências legais com a finalidade de evitar maiores impactos ambientais. Lembrando que, para os parâmetros
orgânicos, além da utilização clássica das análises de DBO e DQO, ainda podemos
contar mais recentemente com a utilização de analisadores e medidores on-line contínuos
de TOC (Carbono Orgânico Total) em conjunto com os valores de DBO e DQO.
Para os sistemas operacionais, a
DBO e a DQO são importantes parâmetros utilizados para determinação das cargas
afluentes a serem tratadas e para conhecimento e ajuste da A/M, que é a relação
entre a quantidade de alimentação (DBO ou DQO) que entra nos reatores e a
quantidade de micro-organismos ali existentes para exercer a estabilização da
matéria orgânica. A eficiência do processo de depuração dos poluentes dentro do
sistema de tratamento é outro indispensável dado fornecido pelas avaliações de
DBO e DQO.
Para quem se interessar por mais
informações, recomendamos consultar Tratamento
de Efluentes nas Indústrias de Papel e Celulose – Alguns Conceitos Básicos e
Condições Operacionais, de David Charles Meissner. Mais especificamente,
sobre controle de cargas DBO-DQO do mesmo autor, basta seguir os links Parte 1,
Parte 2
e Parte 3.
Na primeira parte, além de algumas definições, o autor aborda a sistemática de
medição das cargas orgânicas em uma ETE de lodo ativado. Na segunda, são
tratados assuntos como monitoramento e controle das cargas, qual a faixa ideal
e dificuldades de controle dessas cargas nos tanques de aeração. Na última
parte (3), David examina alguns aspectos da relação alimento (DBO) com a
biomassa, como: conceitos, faixa ideal de controle da variável A/M, suas
variações e implicações biológicas na biomassa.
É isso! Se o leitor desejar
comentar algo, acrescentar informações importantes ou tirar alguma dúvida sobre
o assunto, pode utilizar-se da seção de comentários disponível nesse blog.
Também poderá fazê-lo via e-mail ou até mesmo ligar para nosso escritório. Será
um prazer atendê-lo.
José Leonardo da Silva Cardoso
Diretor Técnico da Biotrakti
Nenhum comentário:
Postar um comentário