(Amostragem, análises, prevenção e detecção de erros e avaliação
crítica)
Todos que trabalham com dados
analíticos, seja em pesquisa e desenvolvimento, controle de processo,
monitoramento ambiental, fiscalização ambiental, entre outros, sabem do quão
importantes são as corretas observações aos procedimentos que abarcam esse
universo de informações. A exatidão e precisão devem ser constantemente
perseguidas por todos os envolvidos até chegar na produção de dados confiáveis que
atendam as condicionantes do estudo, do processo, do monitoramento ou da
licença ambiental.
Para o nosso caso, em se tratando
de análises físico-químicas ou biológicas de águas de reservatórios, poços
artesianos, açudes, lagoas, riachos e nascentes ou de efluentes domésticos e
industriais, tudo começa no plano de coleta de amostras que antecede as
análises laboratoriais. Depois destas, os dados obtidos são interpretados e
finalmente é feito um relatório de avaliação crítica. É disso que iremos tratar
hoje.
Como é feito um plano de coleta de amostras:
A etapa de amostragem é muito
específica e deve ser feita por uma equipe técnica experiente que irá observar
critérios tais como: objetivos da amostragem, seleção de parâmetros e locais de
coleta, número e frequência de amostras, escolha dos métodos de coleta e
preservação das amostras. Estas variáveis serão definidas conforme as
exigências da cada análise e os resultados esperados. A observância a esses cuidados é crucial para
produzir material coletado que permita a obtenção de dados confiáveis e
representativos para atendimento aos critérios desejados.
Nesse ponto vale esclarecer que se
o leitor desejar obter mais informações sobre a sistemática de amostragem de
água, sedimento, comunidades aquáticas e efluentes líquidos, poderá
encontrá-las no “Guia
Nacional de Coleta e Preservação de Amostras” publicado pela Agencia
Nacional de Águas e CETESB em 2011. Nos três primeiros capítulos encontrará os
conceitos básicos para o planejamento do programa de amostragem. O capítulo
quatro trata dos requisitos do controle de qualidade analítica no processo de
amostragem que irá auxiliar na rastreabilidade dos resultados. Os equipamentos
para amostragem são apresentados no capítulo 5. Os capítulos seguintes se
referem aos procedimentos para coleta de águas superficiais, água de consumo humano,
sedimento e efluentes industriais. O capítulo 9 traz os procedimentos para
ensaios de campo, medidores e amostradores automáticos que são muito
importantes para os programas de monitoramento. Depois virão os métodos de
medição de vazão. O guia é uma excelente publicação que reúne todo o
conhecimento técnico necessário para a realização de coleta e preservação de
amostras de águas brutas, tratadas, residuárias, etc., visando a fiscalização,
controle e caracterização da qualidade ambiental.
Análise das amostras e a relação dos vários tipos possíveis de erros
analíticos:
A segunda etapa dos trabalhos é a
realização das análises. Estas devem ser planejadas de acordo com as
necessidades e irão atribuir características físico-químicas (como pH,
temperatura, turbidez, sólidos sedimentáveis, sólidos suspensos, demanda
química e/ou bioquímica de oxigênio) ou características biológicas (a exemplo
de coliformes e E. coli ou bactérias e protozoários) para as águas ou efluentes
amostrados. Vamos frisar que é indispensável
a dedicação do analista durante a execução de todos os procedimentos para que
não ocorram erros inesperados que venham a interferir no processo analítico. Lógico
que erros sempre existirão e que alguns deles serão facilmente detectados e
corrigidos, porém outros exigem uma boa capacidade de interpretação dos dados
obtidos.
Por mais criteriosa que seja a
medição em uma análise realizada nos melhores equipamentos, ainda existirá
incerteza no resultado devido algum tipo de erro provável. Esses erros são
classificados em três tipos: erros grosseiros, sistemáticos ou aleatórios.
Os erros grosseiros geralmente
são provocados por falhas ocasionais relacionados a equipamento, material
utilizado ou interferência do analista ou operador. A exemplo de uma ocasional
perda de calibração de equipamento, do uso de um reagente inadequado, do desvio
dos procedimentos prescritos, da preparação incorreta de amostras e padrões,
erros aritméticos sistemáticos, erros nos cálculos, de registro, etc. Esse tipo
de erro é facilmente detectável porque produz medição fora do esperado e pode
ser evitado pela repetição da análise.
Quanto aos erros sistemáticos,
estes se associam a instrumentação ou ao método utilizado, como problemas de
manutenção e falha de calibração, reagentes de diferentes fornecedores ou
diferenças entre métodos analíticos. Esse
tipo de erro altera a exatidão da medida, fornecendo dados distorcidos, mas
podem ser eliminados ou compensados.
O terceiro tipo citado acima, os
erros aleatórios, são os mais difíceis de serem eliminados e afetam a precisão e a reprodutibilidade dos
resultados; têm causas diversas, como as variações das condições ambientais
(temperatura, pressão e umidade) que podem interferir nos resultados ou fatores
relacionados ao analista como visão e audição do mesmo.
Prevenção e detecção dos erros:
Os tópicos anteriores deixam
claro que, para se obter a qualidade desejável nos trabalhos de um laboratório
de análises para a produção de resultados confiáveis, será necessário contar
com procedimentos adequados de mecanismos de prevenção e detecção de erros. O
trabalho de prevenção está associado a educação, treinamento e supervisão do
pessoal envolvido desde o início de todo o processo com os procedimentos de
coleta, passando pelo transporte, armazenamento e manuseio das amostras até
chegar aos resultados analíticos finais. Paralelo a isso tudo, deve ser implantado
um sistema de detecção e correção de erros, com o propósito de elevar a
eficiência e confiabilidade, complementando assim o controle de qualidade do
processo analítico que monitora e mantém a variabilidade dentro dos limites
definidos pelo nível de controle.
Para detecção de erros, os laboratórios utilizam então o
controle estatístico ao longo do tempo que toma certa quantidade de informações
do processo analítico e avalia suas variáveis como: desvio padrão,
variabilidade e coeficiente de variação. É dessa forma que os erros são detectados e
identificados. Quando sua ocorrência obedece a uma distribuição
aleatória (ou estatística) estão relacionados com a precisão do procedimento de
medição e não podem ser evitados ou corrigidos, apenas minimizados. Já os
chamados erros determinados ou erros
sistemáticos, que inclusive são dotados de sinal positivo ou negativo; estes
podem ser quantificados e corrigidos. Os erros sistemáticos estão relacionados com
a exatidão da medição como no caso de uma medição feita com um instrumento não devidamente
calibrado.
O enunciado acima serve apenas
para exemplificação. É que seria necessário um estudo mais detalhado sobre
controle estatístico que não caberia nestas laudas.
Segue que depois de identificadas e calculadas
as incertezas, é feito um relatório de avaliação crítica das mesmas onde conste
opiniões e interpretações que devem ser claras, informando também as
referências biográficas que houver. O processo finaliza com um registro em carta
de controle padronizada, constando da ação
corretiva ou preventiva a ser tomada sobre os erros encontrados, cujas causas
devem ser resolvidas.
Sistemas de qualidade para laboratórios de análises ambientais
Esse artigo descreveu resumidamente,
um sistema de controle de qualidade constituído de procedimentos básicos de
rotina para controle interno das atividades laboratoriais. Mas, pode ocorrer
que se deseja implantar um sistema de garantia da qualidade mais amplo para
atender as exigências legais, do mercado ou mesmo de clientes. Assim, para os
critérios de credenciamento, reconhecimento, acreditação e habilitação de
laboratórios, vamos encontrar os sistemas denominados NBR ISO/IEC 17025, BPL ou
GLP e o NBR ISO/IEC 9001 que atendem a legislação específica como a IN 01-2007
(MAPA), Portaria 66 (IBAMA), RDC210/216, RE899 GGLAS (ANVISA) e o
Documento-base da ANA.
Quanto aos elementos básicos que
constituem um sistema de qualidade para laboratórios ambientais, podemos
conferir no capítulo 18 do Manual de Tratamento de Efluentes Industriais de
José Eduardo W. de A. Cavalcanti que:
“Um programa de controle de qualidade
analítico deve conter, no mínimo, os seguintes elementos: estudo do limite de
detecção do método analítico, controle do branco, “spike” do branco, “spike” da
matriz, “spike” da duplicata, padrão interno (análise de orgânicos),
“surrogate” (análise de orgânicos), ou traçador (em radioquímica), calibração e
cartas-controle. Esses elementos de controle devem ser utilizados em todas as
análises, quando aplicável, com a finalidade de documentar e verificar a
confiabilidade e precisão dos resultados.”
Numa situação típica, os
efluentes líquidos devem ser analisados antes de seu lançamento no corpo
hídrico em atendimento a Resolução 430 do CONAMA – Conselho Nacional do Meio
Ambiente e ao Decreto Estadual 8468/76 (no Estado de São Paulo) para garantir
que os Valores Máximos Permitidos de um conjunto de parâmetros inorgânicos e
orgânicos atendam às exigências legais com a finalidade de evitar maiores
impactos ambientais. Esse é um dos casos em que as análises devem proceder de
um laboratório acreditado, onde todas as atividades são “procedimentadas” de acordo com o sistema de
qualidade requerido, seja pela ISO (ABNT) ou pela OECD- (INMETRO) conforme você
pode verificar em Minicurso
CRQ-IV Gestão da Qualidade em Laboratórios.
Com esse artigo, fechamos o ano
de 2017 procurando atender as expectativas dos leitores e profissionais interessados por nossas atividades. Aproveitamos o momento para desejar a todos um ano novo repleto
de realizações e sucesso.
Autor: José Leonardo da Silva Cardoso.
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