terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Você sabe o que é a compensação ambiental?

Ao longo dos anos, este escritor formulou uma resposta prática à questão colocada no título, mas nunca se aprofundou teoricamente no assunto. Assim, tanto para a informação dos leitores quanto para o seu próprio benefício, o autor pensou que poderia investir um certo tempo no estudo da questão. Por favor, observe o leitor que não se pretende com isso investir de forma exaustiva no assunto. Neste blog, a intenção é estimular mais pensamento e investigação, e não desenvolver um trabalho acadêmico. Dito isto, é correto afirmar que: os aspectos éticos, legais, políticos e técnicos que muitas vezes estão relacionados à aplicação das leis e estão envolvidos com projetos de compensação ambiental são muito complexos e, em casos específicos, devem ser bem analisados e tornados explícitos. Mais uma vez, pretende-se aqui apenas abordar um "pouco" em alguns desses aspectos. 

Antes de avançar, algumas definições parecem ser úteis, veja a seguir:


Compensação Ambiental = Desvios de Biodiversidade ou Mitigação da Biodiversidade. Um bom ponto de partida para o entendimento da questão encontra-se no documento intitulado: “Relatório independente sobre Deslocamentos de Biodiversidade”. Além deste estudo existe outro, onde o autor descreve os conceitos envolvidos na compensação ambiental. Esse estudo está disponível no Item 1.2,  página 8 do Estudios de caso para el desarrollo de la compensación ambiental en el Perú.

Em relação ao primeiro estudo indicado acima (página 7), no que diz respeito ao programa de compensações de negócios e biodiversidade (BBOP), os desvios de biodiversidade são definidos da seguinte forma:

"As compensações de biodiversidade são resultados de conservação mensuráveis provenientes de ações destinadas a compensar impactos negativos significativos da biodiversidade residual decorrentes de planos de desenvolvimento ou projetos após medidas adequadas de prevenção e mitigação. O objetivo das compensações de biodiversidade é não conseguir uma perda líquida e, de preferência, um ganho líquido de biodiversidade no solo em relação à composição das espécies, estrutura do habitat, função do sistema ecológico e uso das pessoas e valores culturais associados à biodiversidade ".

Existem dois principais tipos de compensações de biodiversidade: "compensações de restauração" e "compensações de proteção".

• As compensações de restauração implicam restaurar, melhorar ou estabelecer a biodiversidade, e são mais comuns nos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico);
• As compensações de proteção (também conhecidas como compensações de perda evitadas) envolvem proteger a biodiversidade de ameaças adicionais, como formação de pastos, fogo, pesca excessiva e desmatamento - são mais comuns em países não pertencentes à OCDE.

Uma referência mais antiga (2004), mas ainda excelente, discute compensações de biodiversidade e pode ser encontrada neste link: Biodiversity Offsets. Definições e explicações adicionais podem ser encontradas na página 9 deste documento. Uma boa explicação sobre o uso das palavras "compensação" e "mitigação" também é fornecida por esse estudo. As palavras compensação e mitigação parecem ser aceitáveis e com significados semelhantes, mas para este autor, a mitigação consiste geralmente em ações que são realizadas a priori para minimizar os impactos ambientais, enquanto que "compensações" são ações tomadas após ou ao mesmo tempo, para compensar impactos ambientais inevitáveis que se espera que ocorra.

A intenção original deste blog foi estudar os quatro aspectos, éticos, legais, políticos e técnicos listados anteriormente. No entanto, com uma exceção significativa e para manter um tamanho razoável para este blog, este primeiro estudo incidirá somente em alguns aspectos técnicos da compensação ambiental. Eventualmente, um estudo adicional sobre os aspectos éticos poderá ser desenvolvido.

De acordo com a experiência pessoal do autor, é comum entre os ambientalistas escutar as frases: "menor é melhor" ou "maior é pior". Pelo menos em termos de impactos ambientais, "menor" nem sempre é "melhor". Isso pode ser fundamentado e exemplificado pela informação demostrada na tabela apresentada abaixo. Essa tabela foi elaborada a partir de informações históricas e desenvolvida em cima das experiências pessoais do autor nas últimas décadas. Ela parece ser um bom exemplo de como as melhorias tecnológicas nos processos industriais podem permitir o aumento da produção com menor poluição. Neste caso, as melhorias da qualidade dos efluentes e da poluição relacionada com a água no rio são alcançadas pelo aumento da produção. Também foram obtidas melhorias semelhantes nas emissões de gases e resíduos sólidos. Vale a pena comentar que esses tipos de ganhos ambientais geralmente não foram considerados como "compensação ambiental" ou compensações de biodiversidade.

Em relação a tabela abaixo que representa uma empresa X, destaca-se aqui apenas alguns valores importantes e típicos para caracterizar as emissões de efluentes para o rio no período de 1997, antes da reconstrução da fábrica e, em 2007, após a remodelação da fábrica como demonstrado na tabela. Para os leitores que não estão familiarizados com os termos, a BOD5 representa a demanda biológica de oxigênio após cinco dias e, é uma medida aproximada da poluição biológica em um efluente. COD é a demanda química de oxigênio, e é uma medida mais precisa da poluição "química" em um efluente. Ambas são variáveis importantes (mas não únicas) usadas na avaliação do impacto de poluição de um efluente em um corpo d’água.


Empresa X
Além das reduções significativas nos impactos ambientais com a implantação de uma fábrica muito maior, na mesma região que a original, foram implantados outros projetos ambientalmente relacionados. Sim, esses projetos foram identificados como Compensação Ambiental e, resultados ambientais significativos foram alcançados ao longo dos anos. Entre os muitos projetos de compensação ambiental incluídos na ampliação da fábrica, destacam-se: uma estação de tratamento de águas residuais construída e doada para um bairro próximo da fábrica, e a construção de um centro contínuo de educação ambiental, que é operado em conjunto com o sistema de escolas públicas. Na área de gestão florestal, obteve-se maior biodiversidade por meio da modificação na forma e no tipo de terreno onde foram plantadas as árvores. Também houve um aumento significativo no plantio de árvores do tipo “nativas” e, não somente eucaliptos.

Um pacote de compensação ambiental mais recente (2017) foi vinculado a um novo projeto de expansão de uma fábrica de celulose localizada no estado de Mato Grosso de Sul. Segundo notícias publicadas na imprensa, a compensação ambiental compreendeu um pacote de projetos estimados no valor R$ 6,2 milhões, que incluíam a compra de equipamentos e remodelação de diversos edifícios nas áreas de programas municipais de saúde, educação e trânsito. Para mais detalhes, veja: Fibria conclui compensação ambiental. Com certeza, existem razões legais e políticas para exigir os investimentos através do conceito e das leis de "compensação ambiental". Mas, para esse autor, do ponto de vista ético, para aprovação de um novo projeto de fábrica, deveriam ser exigidos outros tipos de projetos de compensações ambientais. É difícil ver, por exemplo, um vínculo direto entre a expansão da fábrica, a melhoria ambiental e os vários investimentos descritos acima, como compensação ambiental. Do ponto de vista da biodiversidade, os projetos simplesmente não parecem ter muito a ver com o meio ambiente.

Ao tentar responder à pergunta colocada no título deste blog, originalmente parecia que existia uma resposta bastante direta, e que este autor sabia algo sobre o que significa. Mas depois de ler o recente pacote de compensação ambiental completado pela empresa Fibria, qualquer resposta, pelo menos aqui no Brasil, parece ser muito difícil, fluida e subjetiva. Obviamente, é necessário pensar e estudar mais.

Autor: David Charles Meissner


É dono da DCMEvergreen – Environmental Consulting Services.

Formado em Química na Michigan State University, East Lansing (Mi USA)

Mestrado em Química Orgânica pelo ITA-CTA, São José dos Campos, SP – Brasil.

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