terça-feira, 28 de novembro de 2017

Investir em sustentabilidade: Deve ser feito porque é a coisa certa ou porque é um bom negócio?

No início de um estudo técnico e financeiro focado na reutilização de efluentes biologicamente tratados pela indústria brasileira de celulose e papel, o autor sentiu a necessidade de quantificar o potencial do retorno financeiro dos resultados ambientais obtidos pelo investimento em um projeto como um todo. Para ser mais específico, a idéia original era tentar estimar os custos de investimento e custo operacional de algumas tecnologias novas e específicas para o tratamento de águas residuais. Para tanto, seria preciso estimar o tempo de investimento e custos operacionais requeridos pelo projeto, bem como as taxas de juros, para calcular e comparar o valor presente em diversas opções de investimento, admitindo ainda a possibilidade de não se fazer nada. O autor partia da premissa de que os investimentos na reutilização de efluentes geravam impactos ambientais positivos, entretanto, questionava se esses impactos deveriam ou poderiam ser quantificados em termos de dólares, e assim, utilizados no estudo.

Para contribuir com o esclarecimento de tal questionamento foi realizada uma pesquisa no Google que partiu da seguinte interrogação: "Qual o montante de lucros financeiros gerados com investimentos ambientais?". Uma das primeiras referências encontradas na pesquisa foi um artigo de Ron Robins no site chamado "investindo para a alma". O título do artigo é: A responsabilidade social corporativa aumenta os lucros? Esse trabalho pareceu muito interessante e sugestivo.

As ideias apresentadas por Ron Robins no referido artigo prontamente confirmaram algumas das premissas deste autor. A título de exemplo, apresenta-se abaixo uma observação efetuada por Robins:
"eles [executivos corporativos] entendem que a CSR pode promover o respeito por sua empresa no mercado que pode resultar em vendas mais elevadas, aumentar a lealdade dos funcionários e atrair melhor pessoal para a empresa. Além disso, as atividades de CSR com foco em questões de sustentabilidade podem reduzir os custos e melhorar a eficiência também".

“Assim, a pesquisa geralmente indica que CSR/CC/CSP, não importa como você vai defini-la, oferece benefício potencial para os lucros corporativos”.
Para aqueles que não estão familiarizados com as abreviaturas utilizadas em inglês, CSR significa responsabilidade social corporativa, CC significa cidadania corporativa e CSP significa desempenho social corporativo.

É importante lembrar que o artigo de Robins incluía comentários de seus leitores. Esses comentários de leitores provocaram no autor algumas incertezas, particularmente relacionadas sobre como efetuar a “contabilidade” dos benefícios advindos dos investimentos com retorno ambiental. A partir destas novas incertezas é que foi formulado o título da matéria neste blog: "Investir em sustentabilidade: deve ser feito apenas porque é a coisa certa a fazer, ou porque é um bom negócio”?

Evidenciando como surgiram essas incertezas, destacam-se alguns comentários de leitores frente ao artigo escrito por Robins.

Assim, Darren Wheeler observa o seguinte:
".... Se o motivo para a CSR em uma empresa é baseado em aumentar a rentabilidade, então a liderança da empresa perdeu o seu foco... ver Kant. As práticas éticas, devem ser um resultado natural do gerenciamento de uma organização. [...] Práticas éticas precisam ser ensinadas em casa, reforçadas no sistema educacional e exigidas no local de trabalho”. [...] "O que este artigo implica é que se a CSR não é rentável, então não haveria razão para fazê-lo ".
James Dempsey aponta a seguinte ideia:
"... Pode haver um argumento para as empresas que perseguem objetivos éticos além do lucro; esta possibilidade é capturada, em linguagem empresarial, pela ideia de que algumas empresas têm obrigações legais para com as partes além dos acionistas. Estes podem, por exemplo, ser deveres que as empresas têm com seus clientes.”
Ainda diante de suas incertezas, o autor buscou analisar outros estudos que focalizavam essa questão. Assim, em sua pesquisa o autor encontrou um estudo interessante e extenso sobre sustentabilidade e CSR, com o título The Comprehnesive Business Case for Sustainability, escrito por Tensie Whelan e Marcelo Fink na revista de negócios, Harvard Business Review, que oferece algumas observações relevantes:
“Empresas que adotaram padrões ambientais têm visto um aumento de 16% na produtividade sobre as empresas que não adotaram práticas de sustentabilidade.”
“Os executivos não podem mais se dar ao luxo de abordar a sustentabilidade como uma “coisa boa" ou como função separada do negócio "real". As empresas que ativamente tornam o núcleo de sustentabilidade uma estratégia de negócios, irão impulsionar a inovação e gerar entusiasmo e fidelidade nos funcionários, clientes, fornecedores, comunidades e investidores.”
Também, em um livro recentemente publicado pela editora ABTCB denominado "A evolução tecnológica do setor de celulose e papel no Brasil", ISBN: 978-85-61701-02-4, um de seus capítulos intitulado “A Sustentabilidade no Setor de Celulose e Papel” apresenta algumas observações relevantes, que são aqui expostas:
“Há um consenso de que práticas sustentáveis podem gerar valor, em especial em termos de imagem e reputação das empresas juntos aos consumidores.”“... a sustentabilidade já está deixando de ser um diferencial para se tornar uma questão de sobrevivência dos negócios.”“As prioridades apontadas pelos porta-vozes do setor mostram que a sustentabilidade não pode mais ficar restrita ao discurso de ser economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo. Para a maior parte dos entrevistados, sustentabilidade deve ser empregada com vistas a garantir a perenidade dos negócios.”

Eduardo Toshio Sugawara, da Fundação espaço Eco e um dos autores do capítulo citado acima, durante o 50º Congresso da ABTCP, na seção técnica ambiental apresentou um artigo intitulado: "Temas relevantes relacionados à sustentabilidade do setor de papel de celulose". Nesta apresentação Sugawara confirmou frente a um questionamento do público as ideias que o autor já havia definido.

Portanto, depois de muitas leituras e reflexões sobre a questão colocada no título do artigo aqui apresentado, cabe finalmente formular uma resposta. A conclusão é que investir em sustentabilidade deve ser feito porque é a coisa certa a se fazer e, também porque é um bom negócio; logo, as duas razões estão corretas. Neste sentido, não há necessidade de se realizar um estudo técnico e financeiro para quantificar e separar um valor específico relativo a um eventual retorno financeiro ambiental. Na opinião do autor, quantificando o retorno financeiro se estaria desprezando o aspecto de práticas éticas.



Autor: David Charles Meissner

É dono da DCMEvergreen - Environmental Consulting Services.

Formado em Química no Michigan State University, East Lansing (Mi USA). Mestrado em Química Orgânica pelo ITA-CTA, S. José dos Campos, SP- Brasil.




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