Este é o quarto e último artigo
da série iniciada em agosto. Nele são apresentadas algumas importantes
considerações sobre o tratamento terciário. Neste nível de tratamento ocorre o
polimento do efluente para retirada dos poluentes que resistiram aos
tratamentos anteriores, como os sólidos filtráveis restantes na forma de
matéria orgânica, organismos patogênicos, compostos não biodegradáveis, nutrientes
como o fósforo e nitrogênio, metais pesados, etc.
Conforme a necessidade, seja para
atender a legislação, preservar a qualidade das águas dos mananciais ou ainda para
fazer reúso, dependendo do tipo de poluente e do grau de depuração desejada, o
tratamento terciário poderá incluir diversas etapas que se classificam em dois
principais tipos, ou seja, tecnologias
de transferência de fase ou tecnologias
destrutivas (Fogaça, Jennifer Rocha Vargas. Tratamentos Terciários de
Efluentes). Na primeira, o poluente
passa da fase líquida para fase gasosa ou sólida, podendo daí ser veiculado
para a atmosfera ou separado como resíduo sólido, como no caso da adsorção por
carvão ativado. Na outra, o poluente é oxidado até completa mineralização.
Dentro dessa classificação, serão
apresentados em breves tópicos, os principais tratamentos físico-químicos
avançados mais utilizados na indústria como sendo tratamento complementar ou
terciário de efluentes.
Normalmente, as ETEs fazem a
remoção necessária de nutrientes no tratamento secundário. Porém em algumas
situações específicas - como para prevenir a eutrofização do corpo receptor -
torna-se necessário fazer um ajuste fino para minimizar os residuais de
nitrogênio e fósforo do efluente tratado. Para o esgoto sanitário, a redução do
nitrogênio é sempre feita por processos biológicos em duas etapas conhecidas
como nitrificação e desnitrificação. A primeira etapa poderá ser produzida pelo
aumento do tempo de retenção celular e com reforço no suprimento de ar. Na segunda,
se esgota o oxigênio dissolvido do efluente nitrificado enquanto é fornecido um
suplemento de carbono para promover a liberação do nitrogênio gasoso (Crespo,
Patricio Gallegos. Os Sistemas de Tratamento, vol 1 – Manual de Projeto de
Estações de Tratamento de Esgotos). Para redução do fósforo, pode ser utilizado
algum agente coagulante como sais de compostos férricos ou de alumínio, para
precipitar o referido nutriente na forma de fosfato férrico ou fosfato de
alumínio.
Para a remoção de sólidos
suspensos (aqueles que ficam retidos no papel de filtro) existe a
macrofiltração que remove partículas maiores que 1 micra, utilizando areia e
carvão como meio filtrante. Complementando, podemos ter a micro, a ultra e a nanofiltração, que utilizam membranas permeáveis seletivas e pressurizadas para
remoção de partículas de 1 a 0,001 micra.
Por sua vez, os compostos
orgânicos dissolvidos podem ser adsorvidos em carvão ativado, que é um adsorvente
muito utilizado para tratamento de água e efluentes. Seu poder de remoção de
contaminantes é tão abrangente que retira gosto, odor, cor e fenóis das águas a
serem potabilizadas. Além da vantagem do baixo custo, o carvão ativado também
pode ser regenerado.
Para a redução dos sólidos
inorgânicos dissolvidos no efluente podemos aplicar a osmose reversa ou a troca
iônica. Na osmose reversa, o efluente tratado é pressurizado contra uma
membrana apropriada que permitirá apenas a passagem do solvente (água), retendo
os sais dissolvidos e outros contaminantes como sílica e coloides orgânicos. Na
troca iônica, ocorrerá a retenção desses íons poluentes (sais dissolvidos) na
resina polimérica. Para exemplificar, uma resina catiônica poderá trocar seus
íons H+ por cátions de sais ou metais pesados do efluente, ou então uma resina
aniônica trocará seus íons OH- pelos ânions desse mesmo efluente.
Outro importante tratamento avançado
é a desinfecção do efluente que se faz necessária para evitar a proliferação de
doenças causadas por microorganismos. Seu objetivo é destruir os patogênicos
para garantir uma possível reutilização segura. A aplicação de radiação UV, a
cloração e a ozonização são os principais meios de desinfecção no tratamento
terciário de efluentes.
A radiação ultravioleta é muito
utilizada devido à facilidade de instalação, operação e funcionamento. Ela
ataca o DNA das células patogênicas causando inatividade e interrompendo sua
duplicação. A cloração, apesar dos riscos de manipulação, ainda é o sistema
mais utilizado devido seu baixo custo. O cloro migra pela parede celular e ataca
o interior das células patogênicas, porém pode também reagir com alguns
compostos orgânicos presentes no corpo hídrico e formar organoclorados deixando
residual tóxico e cancerígeno que prejudica a vida aquática. Com poder desinfetante 10 vezes maior que o
cloro e baixo custo operacional, temos o ozônio, que é produzido no local da
aplicação a partir do ar ambiente. O ozônio é um eficiente oxidante de
compostos orgânicos não biodegradáveis.
É isso! Os tópicos acima descritos
certamente serviram para mapear as principais possibilidades existentes para o
polimento dos efluentes tratados. Os critérios para escolha de qualquer uma
dessas tecnologias deverão ser muito bem fundamentados, para que possam atender
ao grau de tratamento desejado com a máxima economia possível de recursos. Devemos também observar que cada tipo de
tratamento citado nesse artigo, irá exigir conhecimento das particularidades de
seu processo e experiência operacional para que sua aplicação alcance com
segurança a eficiência desejada.
Autor: José Leonardo da Silva Cardoso
Gestor Ambiental e Químico
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