segunda-feira, 27 de abril de 2020

ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA TECNOLOGIA DE LODOS ATIVADOS PARA TRATAMENTO DE EFLUENTES


Ao final da revolução industrial, a Inglaterra já estava com seus rios poluídos e com as fontes de água contaminadas. Esses fatores e mais a epidemia de cólera de 1848 trouxeram uma nova preocupação para a sociedade naquele momento: como poderiam tratar seus esgotos?


Foi nesse cenário que surgiu o médico John Snow, considerado o pai da epidemiologia moderna. Ele provou em 1854 a relação entre doenças como a cólera e a qualidade das águas. Em função de suas ideias, a partir de 1882 os ingleses começaram a investigar os fundamentos biológicos para tratamento dos esgotos com a introdução forçada de ar. Esses experimentos se apresentaram eficientes na remoção da matéria orgânica.   
Em 1914, em Manchester, Arden e Lockett retomaram esses estudos e testaram o uso repetitivo dos sólidos floculados no tratamento dos esgotos aerados. Resultado: descobriram como aumentar a tratabilidade dos esgotos e essa melhoria na eficiência da remoção da matéria orgânica fez com que os sólidos floculados fossem chamados de “lodo ativado” (ARDEN; LOCKETT, 1915 apud PICKBRENbateladaNER, 2002).  
Assim foi criado o sistema de lodo ativado de fluxo intermitente, também conhecido como reator sequencial em bateladas. Naquela época, Arden e Lockett denominaram esse processo de tratamento de “Fill and Draw”, ou seja, “encher e descartar”, onde parte do lodo gerado anteriormente seria utilizada para tratamento da próxima batelada.
 

Esse sistema gerava um efluente claro, sem odor e de excelente qualidade. Ocorre que, as limitações técnicas da época e a necessidade de elevada mão de obra para sua operação, fez com que ele ficasse esquecido por um bom tempo.  Só nas últimas décadas, foi que o reator sequencial em bateladas (RSB) pode se tornar uma boa alternativa devido a evolução tecnológica que lhe trouxe facilidade de instalação e operação. Porém, enquanto isso não ocorria, as dificuldades existentes na época de sua criação fizeram com que o processo fosse se adaptando até resultar no “sistema de fluxo contínuo” que se conhece hoje.  
Basicamente, o fluxo contínuo se constitui de um reator-aerador e um decantador-clarificador para separação das fases, retirada do lodo excedente e retorno contínuo do lodo ativado para a entrada do reator.

O sistema permaneceu recebendo melhorias depois dos anos 1950, época de grandes pesquisas e desenvolvimento tecnológico. Foi quando surgiram importantes estudos cinéticos de crescimento microbiano, cálculos de dimensionamento de estações de tratamento de efluentes, metodologias de projeto e novos equipamentos como aeradores, bombas, medidores, etc. Tal desenvolvimento culminou com a popularização do tratamento aeróbio de lodo ativado pelo sistema de fluxo contínuo a partir dos anos 1970, tornando-o a mais importante tecnologia de tratamento de esgotos e efluentes industriais no mundo.   
Nesse período, o sistema lodo ativado já superava de longe outros tipos de tratamento de efluentes, como as lagoas facultativas e as lagoas aeradas que demandavam maiores áreas de construção, eram passíveis de maiores riscos ambientais e tinham menor eficiência na remoção da mateira orgânica.  
Mais pesquisas continuaram trazendo inovação ao processo de lodo ativado. Dessa forma, novas tecnologias, como a aeração prolongada, o sistema Attisholz, o MBBR (Moving Bed Biofilm Reactor) e o MBR (Membrane Bio Reactor) foram se integrando ao processo para melhorar cada vez mais a eficiência do tratamento.  
Tudo isso começou a mais de 170 anos, em um momento, de certa forma, parecido com este em que estamos vivendo. Épocas de crise, de epidemia e pandemia. Épocas que exigem mudanças, superação e inovação. Mas a história não para aí! 
Novas demandas do setor permanecem alimentando o espírito inovador.   Seja por questões sociais, de saúde ou mesmo de ordem econômica relacionada ao processo de lodo ativado, sempre haverá novidades na mídia especializada. Assim, melhorias relacionadas a detecção e tratamento de poluentes orgânicos persistentes (POPs), medicamentos e drogas no tratamento terciário, o avanço da biotecnologia para redução de descarte de lodo orgânico e o surgimento de novos equipamentos são apenas alguns dos sinais da dinâmica evolutiva inserida no processo de lodo ativado.  


Autor:
José Leonardo da Silva Cardoso
Gestor Ambiental e Diretor Técnico da Biotrakti

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