sábado, 29 de fevereiro de 2020

Algas nas Águas de Abastecimento Público, Causas e Custos


Muito se tem noticiado e comentado sobre os problemas causados pela ação humana no meio ambiente. E dentre uma infinidade de situações impactantes nesse universo, a mídia nacional abriu o ano novo com um velho e conhecido tema ambiental: a qualidade da água que chega nas nossas torneiras.

A perda do padrão de potabilidade da água servida a população fluminense não é caso isolado. Entre as várias causas, temos a eutrofização dos mananciais que provoca a proliferação de algas. O resultado é a ineficiência do tratamento e aumento de custos no fornecimento de água potável.



O florescimento de algas e cianobactérias nos mananciais brasileiros não é novidade. Em meados dos anos 1990, a represa de Guarapiranga, localizada na região sul de São Paulo, já   apresentava esse problema que passou a preocupar o governo do estado. Tanto que, em 2009, a SABESP fechou um contrato com a UFSCAR para prever a sistemática de aparecimento de algas naquela represa. Em 2014, uma aglomeração de três quilômetros de algas na Guarapiranga trouxe nova preocupação em meio a grande crise do abastecimento de água na região.

Arquivo Biotrakti - Consultoria e Assessoria Técnica Ambiental
Florescimento de algas verdes em um corpo d'água


Mas porque a proliferação das algas e cianobactérias é tão recorrente nos ecossistemas aquáticos?

A intensificação da atividade humana e as alterações climáticas vêm causando a eutrofização dos lagos, represas e rios do todo o planeta. A eutrofização é um processo de enriquecimento anormal das águas, causada por excesso de material orgânico e nutrientes como nitrogênio e fósforo oriundos, principalmente, de descargas irregulares de efluentes industriais e esgoto doméstico. A destruição da mata ciliar dos mananciais, carreamento de fertilizantes residuais da agricultura e poluição atmosférica também causam a eutrofização. Até mesmo a chuva pode ser fonte de fosfato e de nitrogênio. Portanto, os grandes mananciais das regiões urbanas estão sujeitos a ter uma carga adicional de poluição em suas águas.  Isso ocorre porque as chuvas trazem de volta a poluição atmosférica gerada pelo intenso tráfego de veículos.

A eutrofização normalmente ocorre em águas superficiais com longos períodos de retenção, como represas e lagos. Porém, acontecem intensos descartes de efluentes e esgotos sem nenhum tratamento nos rios brasileiros. Este fato tem contribuído muito para o crescimento dos fitoplanctons e aumento da biomassa de algas e cianobactérias em suas águas.

Mais uma vez nos deparamos com a principal causa dos problemas ambientais: a falta de saneamento básico. O país trata apenas 46% do esgoto gerado, segundo dados mais recentes do Instituto Trata Brasil. Portanto, mais da metade dos esgotos são lançados no meio ambiente sem tratamento.  No caso do Rio de Janeiro, apenas 28% dos dejetos são tratados.

Naquele estado, a poluição chega aos reservatórios do Rio Guandu através de seus afluentes Poços, Ipiranga e Queimados, que recebem esgoto in natura das cidades da Baixada Fluminense. Daí, não estará errado quem disser que as estações de tratamento de água da CEDAE estão tratando esgoto para servir a população. Lembrando que em janeiro (2020), as torneiras das residências cariocas estavam fornecendo um efluente turvo, com odor e sabor de terra.

Quais as principais dificuldades e custos adicionais gerados pela má qualidade das águas utilizadas para abastecimento público?

As estações de tratamento de água (ETAs) transformam a água bruta dos mananciais em água potável. O tipo de tratamento adotado para cada ETA depende diretamente da qualidade da água do manancial que a abastece. Dessa forma, uma água bruta pouco poluída será facilmente tratada resultando em água potável de ótima qualidade a custo baixo. Porém, se a água do manancial for muito poluída, serão necessárias etapas adicionais ao processo de tratamento, maior diversidade e maior quantidade de produtos químicos e mais mão de obra especializada para se obter uma água tratada de qualidade satisfatória para o consumo humano. Além do exorbitante aumento de custos com os produtos químicos, haverá também necessidade de investimentos físicos na ETA e despesas extras com a disposição da maior quantidade de lodo gerado durante o tratamento.

Para se ter uma ideia das dificuldades que o excesso de poluentes na água bruta causa aos sistemas de tratamento, apresentamos alguns de seus efeitos na operação das estações que captam água ‘eutrofizada’: - maior utilização de alcalinizantes e coagulantes; necessidade de adicionar polímeros para auxiliar na floculação e evitar arraste dos flocos leves; perda da eficiência na decantação e remoção dos flocos; maior consumo de água para limpeza dos  sistemas filtrantes obstruídos; maior consumo de cloro para combater a matéria orgânica e a amônia - isso aumenta a possibilidade de formar organoclorados que são nocivos à saúde da população; baixa qualidade da água tratada devido problemas de odor, sabor e turbidez e aumento de depósitos de ferro e manganês nas tubulações causando problemas operacionais.

Todas os fatores citados fazem aumentar os custos de tratamento da água. Além de que, o processo irá exigir um monitoramento mais dedicado do sistema de abastecimento, aplicação de algicidas no manancial e tratamentos específicos para remoção de ferro e manganês. A propósito, veja mais detalhes no estudo “Algas e seus Impactos em Sistemas de Tratamento de Águas para Abastecimento: Estudo de Caso Sistema Guarapiranga”.

Como já foi dito, o florescimento de algas e cianobactérias nos mananciais brasileiros não é novidade. Se o problema não for atacado com planejamento e seriedade, sua reincidência será sempre mais abrangente e progressivamente prejudicial. De nada servirão os caríssimos e ineficientes tratamentos emergenciais que são utilizados no curto prazo para minimizar os danos.  De acordo com especialistas do setor, é imperativo que haja investimentos efetivos para imediata elevação dos índices de coleta e tratamento do esgoto doméstico nas áreas problemáticas.  Outra ação importante é intensificar os trabalhos de educação ambiental para reduzir o descarte de lixo e esgoto in natura em nossos rios, lagos e represas.


Autor:

José Leonardo da Silva Cardoso
Gestor Ambiental e Diretor Técnico da Biotrakti

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