quarta-feira, 31 de julho de 2019

Aplicação dos Conceitos de Sustentabilidade no Brasil


Estamos numa época de muitos questionamentos sobre o futuro da sustentabilidade social, econômica e ambiental em todo o planeta. A produção e o crescente consumo de bens do mundo contemporâneo vêm causando enorme desgaste, degradação ambiental e esgotamento dos recursos naturais.

No Brasil mesmo não faltam exemplos dos impactos causados pela atividade econômica mal regulamentada e desassistida. Constantemente, o noticiário estampa problemas ambientais como deslizamentos de encostas, enchentes, epidemias, secas, desmatamento, desastres ambientais com rejeitos, entre outras manchetes.

Diante desse contexto, é fácil reconhecer a imediata necessidade de ponderar sobre esses fatos.  Por que isso ocorre? O que a sociedade brasileira tem feito – ou deixado de fazer - em prol do desenvolvimento sustentável?



Sabemos que a sustentabilidade é um conceito relacionado ao desenvolvimento formado por ideias, estratégias e ações ecologicamente corretas, economicamente viáveis e justas para todos. Mas, a sustentabilidade traz consigo outros conceitos também. Um destes é a gestão sustentável, onde as organizações valorizam os fatores ligados ao meio ambiente, procurando preservar os recursos naturais do planeta, enquanto permite soluções ecológicas de desenvolvimento. O outro é o crescimento sustentado, que se traduz na evolução constante e segura da economia.

Então, confrontando os conceitos com o já conhecido histórico dos impactos de nossa atividade exploradora, facilmente percebemos que não somos um país que exerce a prática regular do desenvolvimento sustentável.


Os caminhos para a sustentabilidade

Desde o período colonial o desenvolvimento brasileiro tem se apoiado na exploração dos recursos naturais para a produção primária, a exemplo da monocultura da cana de açúcar, da mineração e do café. Esse padrão de atividade econômica, que sempre causou grandes impactos ambientais, se estendeu ao longo do século XX, com sua política desenvolvimentista, sem ser incomodado. Assim se fortaleceu a indústria madeireira, agropecuária e mineradora.

Apenas a partir de meados dos anos 1980, o Brasil começa a considerar a proteção ambiental como uma necessidade do ponto de vista econômico, estimulando soluções corretivas para redução do desperdício de matéria prima e melhoria da imagem das empresas. Mais tarde, o artigo 225 da Constituição Brasileira vem fortalecer as ideias de desenvolvimento sustentável, contidas no Relatório de Brundtland. Em seguida temos a Rio-92 com sua Agenda 21 e a Carta da Terra, que vêm promover a gestão ambiental através do aperfeiçoamento dos processos produtivos para redução dos impactos ao meio ambiente.

O Instituto de Pesquisa Econômica aplicada (IPEA) publicou em 2010 o estudo “Sustentabilidade Ambiental no Brasil: Biodiversidade, Economia e Bem-estar Humano”. Em seu capítulo 17, que trata das mudanças climáticas e repercussões no Brasil, nas páginas 475/6 encontramos o seguinte tópico:

Segundo o relatório do quarto grupo de trabalho do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC, 2007), muitos foram os impactos nos ecossistemas correlacionados às mudanças climáticas já registradas. Onze dos últimos doze anos estão entre os doze mais quentes desde 1850. No Hemisfério Norte identificou que as temperaturas durante a última metade do século XX foram muito maiores que as de qualquer outro período de 50 anos nos últimos 500 anos e maiores que qualquer outro nos últimos 1.300 anos.

Mais abaixo, depois de discorrer sobre as mudanças climáticas na América Latina, como chuvas intensas na Venezuela, tempestades de raios na Bolívia, o furacão Catarina no Atlântico Sul, seca no Paraguai e Argentina, e etc., o estudo cita algumas ocorrências climáticas no Brasil:

...a grande seca na Amazônia em 2005 (MAGRIN et al., 2007); a onda de calor em setembro de 2004, na qual a temperatura esteve 4ºC acima do habitual durante alguns dias e causou prejuízos estimados em US$ 50 milhões somente no estado de São Paulo (FIORAVANTI, 2006); e o inédito furacão Catarina, que atingiu o sul da Costa Brasileira em 2004.


As previsões insustentáveis

Mais à frente, no mesmo estudo do IPEA (2010), encontramos as previsões dos efeitos das mudanças climáticas para o Brasil: O aumento do nível do mar, a variabilidade climática e os desastres provocados pelas mudanças climáticas impactarão os manguezais. O aumento das chuvas na região Sudeste, impactarão na agricultura e na frequência e intensidade das inundações nas grandes cidades. As regiões semiáridas e áridas do Nordeste sofrerão redução dos recursos hídricos, empobrecendo sua vegetação típica.

A propósito, temos uma observação pontual sobre a seca que atingiu o nordeste brasileiro nesta década. Em visita ao Sitio Novo, na zona rural de Juazeirinho, no estado da Paraíba, em plena seca de junho de 2014, ainda pudemos fotografar um cajueiro que fora plantado em 1927 pela senhora Luzia Marcelina da Conceição. De volta ao local em junho de 2018, notamos a falta do tal cajueiro, que não suportou a grande seca e definhou. A seca de 2012 a 2017 no semiárido foi a mais longa na história do Brasil.


As metas ambientais x realidade brasileira

Segue que, em 2015 o Brasil e mais 196 nações assinam o Acordo de Paris, se propondo a cumprir metas para manter o aquecimento global bem abaixo de 2 ºC até 2030. Entre os compromissos firmados temos a diminuição das emissões de CO2 em 37% até 2025 e em 43% até 2030. O país também terá que aumentar para 45% a participação de fontes renováveis de energia em sua matriz energética e promover o fim do desmatamento ilegal da Amazônia, além de recuperar áreas degradadas da floresta.

Conforme divulgação do IPEA em maio último, a participação das renováveis na nossa matriz energética elevou-se de 42,4% em 2012 para 43,2% em 2017, posicionando o setor de energia do Brasil como um dos menos intensivos em emissões de carbono do mundo. Assim nos aproximamos da meta assumida no Acordo de Paris, de alcançar 45% de participação de todas as energias renováveis em nossa matriz energética até 2030.

Isso é muito positivo! Mas não basta para o cumprimento das metas de emissão de gás carbônico na atmosfera. 

Vejamos que, por falta de políticas e ações eficientes, a curva de desmatamento voltou a apresentar certo crescimento a partir de 2012, culminando com os estados do Pará e Mato Grosso sendo os campeões tanto do desmatamento quanto da emissão de gases do efeito estufa no Brasil.


Como o poder público vem reagindo a esses desafios? Como deve agir a sociedade brasileira?

Na verdade, o poder público se acostumou a ir jogando pelas tabelas do corporativismo em detrimento das metas. E, mais recentemente vem demonstrando seu desinteresse pelas questões ambientais, como podemos ver nas manchetes diárias. Até parece que está voltando a velha máxima de crescer a qualquer custo, com o agronegócio e/ou os ruralistas definindo os rumos das questões ambientais.

Não queremos dizer que estes setores não possam lidar com as questões da sustentabilidade. Entendemos que, com tecnologia, investimentos e vontade, sempre será possível aumentar a produção rural e ainda preservar o meio ambiente. Porém, a falta de uma definição clara dos planos do governo nos deixa com a impressão de que estão tentando sucatear os mecanismos legais de proteção ambiental, conquistados nas últimas décadas com auxílio das pressões internacionais e das organizações não-governamentais.

Por sorte, o comércio exterior continua exercendo forte pressão para que não saia tudo dos trilhos. Como exemplo mais recente dessas interferências, temos a ameaça que França e Alemanha fazem de bloquear o pacto comercial entre União Europeia e o Mercosul, caso o Brasil não se comprometa com o combate ao aquecimento global e a preservação da floresta amazônica. Veja mais no link.

Se as questões da sustentabilidade devem ser tratadas com seriedade e muita atenção, então que o façamos! Por um lado, o Estado tem a obrigação e responsabilidade de apoiar e implementar as políticas ambientais necessárias como a proteção das águas, controle do desmatamento, reflorestamento, controle dos defensivos agrícolas, educação ambiental, etc. Por outro, a sociedade brasileira, através de seus diversos setores, a exemplo dos movimentos sociais, das empresas e das escolas, deve ampliar sua atuação política, cobrar, apoiar e monitorar a execução das políticas públicas relacionadas ao meio ambiente. A sociedade civil deve promover o diálogo.

Quando necessário, em casos de omissão do Poder Executivo, a sociedade deve exercer o direito até mesmo de acionar o Poder Judiciário, através da Ação Popular, para garantir que o Estado adote as necessárias medidas de proteção ao meio ambiente.

Assim se resume nossa opinião sobre a aplicação e promoção dos conceitos de sustentabilidade. Cabe ao leitor desse blog entender que o conteúdo apresentado se constitui apenas de algumas breves considerações extraídas de um universo muito mais complexo e abrangente. Porém, este material já é suficiente para nos dar uma ideia da enorme importância que o assunto vem tomando nas últimas décadas em todo o mundo.

Os fatores ligados ao meio ambiente, como a preservação dos recursos naturais e a busca por soluções ecológicas de desenvolvimento são os elementos chaves para atingir a gestão sustentável e não devem ser negligenciados.

Quando todos os indicadores dos compromissos ambientais firmados pelo país passarem a evoluir regularmente em direção as metas, aí sim, poderemos desenvolver uma economia segura e crescer de maneira sustentável, garantindo melhor qualidade de vida para toda a nação.


Autor:
José Leonardo da Silva Cardoso
Gestor Ambiental e Diretor Técnico da Biotrakti

Nenhum comentário:

A BIOTRAKTI é uma empresa paulista, situada no Vale do Paraíba, que atua em todo o Brasil, no segmento de engenharia, projetos, consultoria, e serviços de tratamento de água, efluentes industriais e resíduos sólidos em geral.

A BIOTRAKTI está capacitada para criar soluções de engenharia, de meio ambiente e operacionais, em atendimento às metas ambientais de sua empresa.