A busca por alternativas à água
potável, vem estimulando o uso das águas pluviais. A mesma água que ainda hoje
extravasa por galerias para fora dos centros urbanos, arrastando consigo
contaminantes e todo tipo de detritos, nos interessa muito como recurso hídrico
possível de gerar grande economia ao país.
A forma como lidamos com as águas
pluviais urbanas passou a ser questionável, pois além de desperdiçar um grande
recurso que temos à disposição, ainda deixa de amenizar os danos ambientais
causados pelas enchentes nas cidades que não param de crescer. É nesse ambiente
que surgem as primeiras grandes inovações na gestão dessas águas.
Essa alteração na lei prevê a
promoção de iniciativas de uso das águas pluviais em atividades domésticas,
agrícolas, urbanas e industriais. O Brasil já tem um histórico de significativo
sucesso em iniciativas de manejo de água da chuva na região do semiárido, que
conta com seus tradicionais caldeirões,
barreiros, cacimbas, açudes e mais recentemente com o eficiente Programa Um Milhão de Cisternas para as
comunidades rurais. Porém falta
planejamento para utilização da água da chuva nos grandes centros urbanos.
Essa carência se deve ao fato de
que os sistemas tradicionais de drenagem das águas pluviais urbanas em todo o
mundo, foram projetados apenas para fazer o escoamento das chuvas, a fim de
evitar alagamentos, danos a propriedade e interferência das enxurradas no
tráfego de pedestres e veículos. Nessas considerações, não nos importa agora
avaliar a eficiência desse tipo de infraestrutura. Apenas queremos lembrar que
esse sistema foi implantado numa época em que as cidades não eram tão grandes e
a água ainda era considerada um bem infinito, podendo, portanto, ser dispensada
mais adiante, sem maiores considerações.
Mas os tempos estão mudando, como diria Mr. Zimmerman. Os padrões
climáticos estão se alterando em todo o mundo e os reservatórios de água estão
se esgotando. Precisamos encontrar novas fontes e a melhor maneira de se
conseguir isso dentro de nosso ambiente urbano é através da utilização da água
da chuva, entre outras formas como podemos ver na palestra
proferida no TED pelo engenheiro David Sedlak.
É necessário repensar nosso planejamento
urbano. As cidades impermeabilizaram os sistemas naturais de infiltração de
água da chuva que abastecem os aquíferos. Essa água que cai ainda limpa, não sendo
absorvida pelo solo, vai se acomodar nas regiões de várzeas indevidamente
ocupadas. Durante seu escoamento pela pavimentação, ela vai acumulando
bactérias, metais pesados, pesticidas, plásticos, óleo, etc. A Agência de
Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) estima que as águas pluviais
contribuem com 20% da poluição dos rios e 45% da poluição dos estuários.
O arquiteto Rinaldo Veseliza, no
artigo How
We Can Better Plan Our Cities to Utilize Stormwater cita três
soluções de aproveitamento da água da chuva. A mais simples, conhecida como
“ruas verdes” que aproveitam a drenagem natural em valetas de drenagem,
permitindo que a água seja absorvida e filtrada pelo solo. As outras são o uso de pavimentação permeável
e de unidades de reciclagem e escoamento. Como exemplo de reciclagem dessas
águas, Veseliza cita a cidade americana de Santa Mônica que foi a primeira
daquele país a ter uma unidade de tratamento e hoje produz diariamente 1,9
milhão de litros através de sistemas modulares.
Outro grande exemplo é Singapura.
A cidade-nação, que não tem aquíferos ou grandes rios para abastecer seus 5
milhões de habitantes, apostou em tecnologias de reúso e reciclagem de água.
Singapura tem dois sistemas separados para coleta de água da chuva e de águas
servidas. A água da chuva é coletada por um grande sistema de drenos, canais,
rios, lagoas de coleta e reservatórios, para depois ser tratada até se tornar
água potável.
Hoje em Singapura, a água
reciclada e a água dessalinizada correspondem aproximadamente a 50% de seu
consumo, porém novos investimentos poderão elevar para 80% no futuro. As outras
duas fontes para consumo são as captações locais e a importação de água. Leia
mais em O
QUE PODEMOS APRENDER COM A ESTRATÉGIA HÍDRICA DE SINGAPURA.
Outros países como Alemanha,
Japão e Israel também fazem bom aproveitamento das águas pluviais em suas
principais cidades. Após tratamento, a utilizam para descargas, lavagem de
roupas, combate a incêndio e outros usos gerais.
Nas cidades brasileiras, não
temos nada de relevante para aproveitamento dessas águas. Nossos governos têm
se preocupado mais com a gestão do nível das represas, com a importação de água
de outras bacias e com os famosos piscinões, a exemplo do Rio de Janeiro e da
Grande São Paulo.
Só a cidade de São Paulo tem 22
piscinões para armazenamento das águas pluviais, cuja única função é a de
minimizar o efeito das enchentes. Os especialistas apontam para a necessidade
de se planejar em adição a esse sistema de macrodrenagem, outros sistemas de
armazenamento na escala de microbacias; isso possibilitaria o aproveitamento
da água e o controle da poluição difusa, além de favorecer a recarga dos
aquíferos. Essa é uma proposta que pode muito bem ser aplicada também em
cidades menores, como as do Vale do Paraíba, cujo processo de urbanização já
apresenta problemas significativos com relação a gestão dos recursos hídricos.
Os projetos de aproveitamento das
águas pluviais poderiam ser pensados para inicialmente produzir água para usos
menos nobres, como limpeza de ruas, de carros, descargas, irrigação, serviços
de obras, etc. Isso por si só, já pagaria os gastos iniciais dos projetos. Uma
vez disponibilizada de maneira adequada a captação e acondicionamento dessas
águas, com mais recursos, numa segunda etapa, seria possível dar novos passos e
evoluir para o fornecimento de água potável no futuro, com aplicação de tecnologias
modernas de tratamento, como a ultrafiltração e a osmose reversa.
Por mais difícil que pareça e por
mais caro que possa ser, este ainda é o caminho. Hoje sabemos que a água que
não é aproveitada, se torna problema, gerando despesas gigantescas para os
cofres públicos. Mas isso pode ser revertido e o problemão virar solução. Pense
nisso!
José Leonardo S. Cardoso
Diretor
Técnico da Biotrakti
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