Já falamos da importância que os
sistemas descentralizados de captação e fornecimento de água estão alcançando
recentemente no Brasil. Da mesma forma, seguem nessa onda de crescente
interesse, os sistemas descentralizados de tratamento de águas servidas (esgoto
doméstico). A motivação é clara! Preservação ambiental, baixo custo de
implantação e garantias de segurança e saúde aos usuários.
Dentre as várias opções de
tratamento das águas servidas existentes, duas têm chamado a atenção dos brasileiros:
a Bacia de Evapotranspiração e o Filtro Biológico. Ambas são de fácil execução,
se complementam e atendem perfeitamente as necessidades de instalações em áreas
não atendidas pelos sistemas centralizados de saneamento, como veremos mais
adiante.
A Evapotranspiração é barata, não
gera odor, evita a poluição do solo e dos recursos hídricos, podendo durar até
trinta anos, se for devidamente projetada. Um dos principais requisitos para
sua utilização, é a separação das águas servidas em água negra e água cinza. A
água negra - aquela que sai dos sanitários - será tratada pela Bacia de
Evapotranspiração (BET), enquanto que a água cinza - proveniente da máquina de
lavar, dos tanques e chuveiros, inclusive das pias de cozinha - será tratada
pelo Filtro Biológico, que poderá ser projeto para produzir também água de reúso
não potável.
A Bacia de Evapotranspiração:
A Bacia de Evapotranspiração
(BET), também conhecida como Fossa de Bananeiras, é uma alternativa sustentável
utilizada em várias partes do mundo, para tratamento domiciliar de águas negras.
Estas correspondem a aproximadamente 30% da água consumida nas atividades domésticas
e apresentam elevada carga orgânica e grande quantidade de sólidos suspensos
sedimentáveis e patogênicos.
O sistema BET se constitui de um
tanque impermeabilizado contendo uma câmara bio-séptica, preenchido com
diferentes camadas de substrato e plantado com vegetais de crescimento rápido e
de folhas largas, com alta demanda de água. Nele, o efluente sanitário passa
por processos naturais de degradação microbiana da matéria orgânica,
mineralização dos nutrientes e evapotranspiração da água absorvida pelas
plantas.
Na câmara formada pela pirâmide
de tijolos vazados ou pela pilha horizontal de pneus e nos espaços livres das
pedras e tijolos, ocorre a digestão anaeróbica, que é a decomposição da água
negra pelo processo de fermentação realizado pelas bactérias.
A impermeabilização do tanque e a
não saída de água residual garantem a contenção dos agentes patogênicos. A água
percola para cima se separando assim dos resíduos, alcança a camada de brita,
areia e solo, chegando limpa as raízes das plantas.
Essa água limpa é devolvida ao
meio ambiente através da evapotranspiração realizada pelas largas folhas das
plantas que compõem o sistema (bananeiras, mamoneiras, caetés, taioba, etc.).
Durante seu crescimento, essas plantas também consomem os nutrientes
mineralizados pelo processo, assim evitando que a bacia se encha.
Para que o sistema funcione com
eficiência, é necessário atender as exigências de posicionamento no terreno,
dimensionamento correspondente ao número de usuários, forma construtiva da
bacia e proteção natural da superfície contra entrada de água da chuva, como
exemplificado nesse link
da Emater.
O Filtro Biológico:
Este vem atender à necessidade de
se tratar as águas cinzas, aquelas que contém nutrientes como nitrogênio e
fósforo, coliformes termotolerantes e alta carga de DBO e DQO provenientes das gorduras
e detergentes, geradas por máquinas de lavar, pias, tanques e chuveiros.
O filtro biológico é composto primeiramente
por uma caixa para retenção de resíduo sólido e gordura que se conecta a pia da
cozinha. A saída da caixa de gordura e o restante das águas cinzas se conectam
a um filtro contendo enchimento de pequenos tubos corrugados, areia e brita.
Daí o efluente filtrado é direcionado para um tanque retangular, raso e impermeabilizado,
contendo pedras grandes nas extremidades e pedregulho no centro onde serão
plantados juncos ou outras plantas aquáticas com raízes filtrantes. A água
cinza flui por gravidade por entre as pedras onde será purificada pela ação
biológica dos micro-organismos que consomem a matéria orgânica e pelas plantas
que se utilizam dos nutrientes existentes. No final, a água tratada poderá ser
acumulada em um reservatório e desinfetada para reutilização em regas, lavagem
de pisos, descargas, etc., ou então poderá fluir por um sumidouro adequadamente
planejado. Para saber mais, clique aqui.
Na destinação da água tratada
para reúso direto, sempre será necessário um acompanhamento profissional para
garantir a eficiência do tratamento e a desinfecção segura contra patogênicos,
em atendimento a legislação vigente. Por isso é necessário observar o correto
dimensionamento da estação, o modo operacional mais adequado – se ascendente ou
descendente – e outros detalhes construtivos importantes.
Tanto a bacia de
evapotranspiração quanto o filtro biológico são sistemas simples, baratos e de
fácil implementação. Se forem devidamente planejados, irão garantir a segurança
e saúde dos usuários, reduzir os impactos ao meio ambiente e embelezar o jardim
do imóvel, seja este uma casa de campo ou de praia, uma chácara ou um pequeno
empreendimento afastado da rede pública de esgotamento sanitário.
Autor: José Leonardo Cardoso
Diretor
Técnico da Biotrakti
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