sexta-feira, 27 de julho de 2018

Tratamento Descentralizado de Águas Servidas

Bacia de Evapotranspiração e Filtro Biológico

Já falamos da importância que os sistemas descentralizados de captação e fornecimento de água estão alcançando recentemente no Brasil. Da mesma forma, seguem nessa onda de crescente interesse, os sistemas descentralizados de tratamento de águas servidas (esgoto doméstico). A motivação é clara! Preservação ambiental, baixo custo de implantação e garantias de segurança e saúde aos usuários.

Dentre as várias opções de tratamento das águas servidas existentes, duas têm chamado a atenção dos brasileiros: a Bacia de Evapotranspiração e o Filtro Biológico. Ambas são de fácil execução, se complementam e atendem perfeitamente as necessidades de instalações em áreas não atendidas pelos sistemas centralizados de saneamento, como veremos mais adiante.


A Evapotranspiração é barata, não gera odor, evita a poluição do solo e dos recursos hídricos, podendo durar até trinta anos, se for devidamente projetada. Um dos principais requisitos para sua utilização, é a separação das águas servidas em água negra e água cinza. A água negra - aquela que sai dos sanitários - será tratada pela Bacia de Evapotranspiração (BET), enquanto que a água cinza - proveniente da máquina de lavar, dos tanques e chuveiros, inclusive das pias de cozinha - será tratada pelo Filtro Biológico, que poderá ser projeto para produzir também água de reúso não potável.      
                           
A Bacia de Evapotranspiração:

A Bacia de Evapotranspiração (BET), também conhecida como Fossa de Bananeiras, é uma alternativa sustentável utilizada em várias partes do mundo, para tratamento domiciliar de águas negras. Estas correspondem a aproximadamente 30% da água consumida nas atividades domésticas e apresentam elevada carga orgânica e grande quantidade de sólidos suspensos sedimentáveis e patogênicos.

O sistema BET se constitui de um tanque impermeabilizado contendo uma câmara bio-séptica, preenchido com diferentes camadas de substrato e plantado com vegetais de crescimento rápido e de folhas largas, com alta demanda de água. Nele, o efluente sanitário passa por processos naturais de degradação microbiana da matéria orgânica, mineralização dos nutrientes e evapotranspiração da água absorvida pelas plantas.


Na câmara formada pela pirâmide de tijolos vazados ou pela pilha horizontal de pneus e nos espaços livres das pedras e tijolos, ocorre a digestão anaeróbica, que é a decomposição da água negra pelo processo de fermentação realizado pelas bactérias.

A impermeabilização do tanque e a não saída de água residual garantem a contenção dos agentes patogênicos. A água percola para cima se separando assim dos resíduos, alcança a camada de brita, areia e solo, chegando limpa as raízes das plantas.

Essa água limpa é devolvida ao meio ambiente através da evapotranspiração realizada pelas largas folhas das plantas que compõem o sistema (bananeiras, mamoneiras, caetés, taioba, etc.). Durante seu crescimento, essas plantas também consomem os nutrientes mineralizados pelo processo, assim evitando que a bacia se encha.

Para que o sistema funcione com eficiência, é necessário atender as exigências de posicionamento no terreno, dimensionamento correspondente ao número de usuários, forma construtiva da bacia e proteção natural da superfície contra entrada de água da chuva, como exemplificado nesse link da Emater.

O Filtro Biológico:

Este vem atender à necessidade de se tratar as águas cinzas, aquelas que contém nutrientes como nitrogênio e fósforo, coliformes termotolerantes e alta carga de DBO e DQO provenientes das gorduras e detergentes, geradas por máquinas de lavar, pias, tanques e chuveiros.

O filtro biológico é composto primeiramente por uma caixa para retenção de resíduo sólido e gordura que se conecta a pia da cozinha. A saída da caixa de gordura e o restante das águas cinzas se conectam a um filtro contendo enchimento de pequenos tubos corrugados, areia e brita. Daí o efluente filtrado é direcionado para um tanque retangular, raso e impermeabilizado, contendo pedras grandes nas extremidades e pedregulho no centro onde serão plantados juncos ou outras plantas aquáticas com raízes filtrantes. A água cinza flui por gravidade por entre as pedras onde será purificada pela ação biológica dos micro-organismos que consomem a matéria orgânica e pelas plantas que se utilizam dos nutrientes existentes. No final, a água tratada poderá ser acumulada em um reservatório e desinfetada para reutilização em regas, lavagem de pisos, descargas, etc., ou então poderá fluir por um sumidouro adequadamente planejado. Para saber mais, clique aqui.

Na destinação da água tratada para reúso direto, sempre será necessário um acompanhamento profissional para garantir a eficiência do tratamento e a desinfecção segura contra patogênicos, em atendimento a legislação vigente. Por isso é necessário observar o correto dimensionamento da estação, o modo operacional mais adequado – se ascendente ou descendente – e outros detalhes construtivos importantes.


Tanto a bacia de evapotranspiração quanto o filtro biológico são sistemas simples, baratos e de fácil implementação. Se forem devidamente planejados, irão garantir a segurança e saúde dos usuários, reduzir os impactos ao meio ambiente e embelezar o jardim do imóvel, seja este uma casa de campo ou de praia, uma chácara ou um pequeno empreendimento afastado da rede pública de esgotamento sanitário.

Autor: José Leonardo Cardoso
Diretor Técnico da Biotrakti

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