Os sistemas descentralizados de
captação e fornecimento de água vêm assumindo grande importância no Brasil nos
últimos tempos. Isso se justifica de várias formas, ora devido ao reduzido custo para tratamento e baixo consumo de energia, ora pela redução
do escoamento superficial e diminuição dos riscos de enchentes ou ainda devido
a independência de implantação dos muitos projetos existentes que podem atender
diferentes necessidades, como uso doméstico, agrícola, comercial, industrial,
paisagístico e ambiental.
Atualmente, dispomos de várias
tecnologias que são aplicadas no manejo descentralizado de água no Brasil, mas uma delas tem alcançado enorme sucesso: a cisterna. Por isso mesmo, fomos buscar mais informações que
resultaram no artigo que segue.
Primeiramente será necessário
olhar para o ambiente onde o elemento “cisterna” se inseriu. Trata-se do
semiárido brasileiro, na região nordeste, com uma população rural desassistida
pelos poderosos e sem grandes conhecimentos de manejo da água. No texto de
Johann Gnadlinger intitulado “Água de chuva no manejo integrado dos recursos
hídricos em localidades semiáridas: aspectos históricos, biofísicos, técnicos, econômicos e sociopolíticos” vê-se que a primeira iniciativa nesse sentido que
se tem registro, foi do Padre Ibiapina, que na segunda metade do século XIX,
construiu as “casas d’água” no sertão da Paraíba, para atender às casas de
caridade e a comunidade. Essas “casas d’água” eram cisternas cavadas no
granito, com captação de água da chuva em terrenos inclinados e cobertas com
telhado, para minimizar a evaporação.
Sempre visando o combate à seca e
observando as características do ambiente ao seu redor, o nordestino segue ao
longo do século XX, se utilizando de diferentes iniciativas para o manejo da
água, construindo assim os chamados “caldeirões”, “caxios”,
“cacimbas-cisternas”, “barreiros” e “açudes”.
É nesse universo que surge um
personagem singular que, em meados dos anos 1950, desenvolve uma solução
simples para o que sempre fora o problema de maior aflição para o nordestino, a
seca. Trata-se do agricultor sergipano Manoel Apolônio, que deixara sua cidade
para trabalhar como pedreiro na Grande São Paulo. Ali, construindo uma piscina
redonda, ele conheceu a técnica que junta placas de areia e cimento para criar
o formato circular. Manoel logo associa
o novo conhecimento com a possibilidade de armazenar água. De volta ao
semiárido, na Bahia, ele desenvolve as primeiras cisternas com a ajuda de
famílias interessadas em seu projeto. Com capacidade para 16 m³, o suficiente
para que uma família de cinco pessoas sobreviva a uma estiagem de 6 a 8 meses, seu
reservatório capta água da chuva através de calhas instaladas nos telhados.
Esta foi uma solução simples - criada
por alguém da própria região - que a partir de 1999 passou a fazer parte das
políticas públicas para o acesso à água no semiárido. Dois anos depois, o
governo federal cria o P1MC (Programa Um Milhão de Cisternas) com o propósito
de descentralizar o acesso à água, favorecendo assim as comunidades rurais.
Hoje, as cisternas compõem a
paisagem do semiárido brasileiro e isso comprova sua eficácia, conforme podemos
constatar na reportagem de Rosane Queiroz, intitulada “Cisterna
é a tecnologia mais eficaz contra seca, diz especialista”, publicada na Folha de 19/05/2018:- Já são 1,2
milhão de famílias que contam com esse recurso, entre o 1,7
milhão que habita os 1.262 municípios da região.
Conforme a necessidade exigia,
foram se desenvolvendo diversos tipos de cisternas, para atender a diferentes
critérios técnicos e sociais como durabilidade, segurança, sustentabilidade,
geração de emprego e preferência do usuário. Também foram testados diferentes
materiais construtivos como tijolos, pedras, argamassa de cal e materiais
sintéticos, porém prevalecem os reservatórios cilíndricos de argamassa de
cimento em placas ou com tela de arame para uso humano e adaptações destas para
dessedentação de animais e uso na agricultura.
Para maiores informações, o leitor
poderá consultar o manual de construção de cisternas de tela de arame
(alambrado) do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA,
escrito por Haroldo Schiestek, que traz dados detalhados do material
construtivo - como tipo de malha da tela metálica e traço da massa - e todo o
procedimento de construção da cisterna.
Depois de verificar o assunto
abordado e as informações nos links indicados, será possível compreender o
sucesso do uso dessa tecnologia para lidar com a oferta irregular de água no
semiárido brasileiro, que sempre sofreu com a inconstância das chuvas, com a
evaporação elevada e com as
características do subsolo cristalino que não retém grandes reservas de água.
Autor:
José Leonardo da Silva Cardoso
Diretor Técnico da Biotrakti
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