Na foto (coleção pessoal do autor), dois garotos procurando por metal para vender em um depósito de ferro velho. |
Na
segunda parte, alguns exemplos mais recentes e relacionados a situação e
destino de lixo no Brasil e nos EUA serão discutidos.
• Problemas com a saúde e segurança
dos catadores de lixo e trabalhadores com material reciclado.
As emoções do autor ao tirar a foto acima, eram e ainda
hoje são de tristeza e frustração e do pouco que se pode contribuir para a redução
deste tipo de acontecimento, que deriva de viver em uma sociedade que não consegue
reduzir a pobreza da população e que estimula situações como essa dos garotos.
Cena dentro de uma cooperativa de reciclagem de materiais em São Paulo, registrada pela Dra. Mariana Maleronka Ferron. |
Nesta segunda foto, os membros da cooperativa podem ser vistos manipulando vários tipos de
lixo e resíduos. Aqui também, as emoções do autor ao ver a foto acima são de
tristeza e frustração.
A Dra. Mariana Maleronka Ferron
defendeu a tese “Saúde, trabalho e meio ambiente:
exposição a metais em catadores de materiais recicláveis” na Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo.
Algumas de suas conclusões são
citadas abaixo:
“Os resultados encontrados apontam para uma maior exposição ao cádmio relacionada ao trabalho exercido pelos catadores de material reciclável.”
“Os catadores de material reciclável apresentam maiores níveis de exposição ao chumbo quando comparados com a população geral; porém, a relação com o trabalho pode não ser a causa principal. Os resultados encontrados podem ter uma relação direta com a maior proporção de tabagistas nessa população e com a condição socioeconômica desses trabalhadores.”
“Os níveis de mercúrio encontrados não apontam para uma diferença de exposição entre os catadores e a população geral, o que pode ter relação com as atividades educativas que vêm sendo exercidas nas cooperativas por diferentes associações.”
“Conforme discutido na Introdução desse estudo, o trabalho de catadores tem demonstrado um alto potencial inclusivo, não apenas em relação à renda, mas também no exercício da cidadania, e mais especificamente na recuperação da dignidade, da autoestima e do sentido de pertencimento social.”
Como se pode perceber a partir dos comentários
anteriores do autor, e não negando ou minimizando a última afirmação da Dra. Mariana Maleronka
Ferron, o autor acredita que os processos existentes de coleta e separação de
material reciclável, incluindo o atual sistema de projetos cooperativos de
reciclagem realizados na cidade de São Paulo, não podem ser considerados
suficientes para resolver os difíceis problemas de reciclagem de materiais e,
principalmente melhorar as condições de vida dos cidadãos.
Em relação a esse aspecto, vale
resgatar algumas informações adicionais referente a uma outra grande cidade: NEW YORK CITY.
- Destino final do lixo em New York City
Ao
cavar fundo em suas memórias, foi possível o autor lembrar que grande parte do
lixo de NYC, até meados do século XX, foi simplesmente colocado em uma barcaça
e jogado no Oceano. Fora da vista, longe da mente! Não é difícil imaginar o que
aconteceu com a vida marinha e a qualidade da água devido a essa destinação de resíduos.
Esse tipo de procedimento que foi utilizado por muitas cidades em todo mundo
pode ter contribuído da forma significativa com a formação de uma grande mancha de lixo no Pacífico observada a partir de 1997. Nova York provavelmente
foi apenas uma das muitas grandes cidades que usaram esse método para resolver
seu problema de resíduos sólidos. Informações disponíveis na internet e as memórias
mais recentes, como citadas na parte 1 do artigo, revelam que esse tipo de procedimento
mudou, pelo menos para NYC, como citado abaixo:
“Hoje, a cidade de Nova York gera 14 milhões de
toneladas de lixo a cada ano. O montante é tão grande que a cidade o administra
através de dois sistemas separados, um público e outro privado. O sistema
público trabalha com resíduos de residências e edifícios governamentais, bem
como algumas organizações sem fins lucrativos. Esse “lixo público”, que
responde por cerca de um quarto do total da cidade, é coletado pelo
Departamento de Saneamento de Nova York (DSNY), a maior agência de gestão de
resíduos do mundo com um orçamento anual de US $ 1,5 bilhão, maior que o
orçamento anual de alguns países”. Para saber mais, veja o link.
- Destino final do lixo em São Paulo
Para complementar as memórias
e trazer o foco para os dias atuais, é interessante acrescentar algo sobre a
destinação do lixo no Brasil. Observa-se no Brasil uma prática muito errada,
mas muito comum, ou seja, os municípios brasileiros dispensam seus resíduos em
lixões, a céu aberto, nas periferias, onde o lixo apodrece ou é queimado e, também, onde muitas pessoas ainda
garimpam materiais para reciclagem, sem nenhum controle de segurança a sua
saúde. Devido à falta de recursos, muitas prefeituras não conseguiram
atender a legislação (Lei 12.305/2010) que determinou o fim dos lixões para
2014 e, em razão disso o Senado aprovou a prorrogação do prazo para 2021. O
Ministério do Meio Ambiente estima que 59% dos municípios brasileiros ainda
dispõem seus resíduos a céu aberto ou em aterros controlados, que seriam lixões
com cobertura precária.
O estado de São Paulo, possui 27
prefeituras que despejam seus resíduos em local inadequado. Outras transportam
seus resíduos por até mais de 200 km para serem dispensados em aterros.
Na cidade de São Paulo, são
geradas diariamente 20 toneladas de lixo, sendo que 12 toneladas correspondem a
resíduos domiciliares. O sistema de coleta beneficia uma população de 11
milhões, percorrendo uma área de 1523 km², empregando 3.200 pessoas e
utilizando 500 veículos. O lixo não reciclável da capital paulista é destinado
a dois aterros – um em São Matheus e outro em Caieiras – onde foram criadas
usinas para transformar o biogás formado no aterro em energia elétrica.
Os custos são muito altos e
por esse motivo, a SABESP vem acalentando a ideia de ampliar sua área de
atuação e desenvolver tecnologia de geração de energia a partir
da queima do lixo. A SABESP procura diminuir o impacto do lixo
nos aterros sanitários, mas principalmente preservar a água do subsolo em volta
dos aterros. A conversão de lixo em energia poderá proporcionar grande economia
para SABESP, que em 2016 teve um gasto de R$ 935 milhões com energia elétrica.
Pela
experiência, pode-se concluir que a reciclagem do lixo realizada de forma
correta se apresenta como uma solução viável economicamente, além de contribuir
com as melhorias ambientais e sociais. Ao escrever esse artigo o autor procurou
dar uma pequena contribuição para a discussão sobre o tema, demonstrando que
apesar de difícil e complexo é preciso que sua análise seja aprofundada,
particularmente por pessoas e grupos especializados em trabalhos ambientais.
Autor: David Charles Meissner
É
dono da DCMEvergreen – Environmental Consulting Services.
Formado
em Química na Michigan State University, East Lansing (Mi USA)
Mestrado
em Química Orgânica pelo ITA-CTA, S.J. dos Campos, SP – Brasil.
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