quarta-feira, 30 de maio de 2018

RECICLANDO MEMÓRIAS – PARTE II

 Na foto (coleção pessoal do autor), dois garotos procurando
por metal para vender em um depósito de ferro velho. 
Na primeira parte deste artigo foram tratados alguns aspectos que envolvem a reciclagem de materiais do ponto de vista da educação ambiental e de programas desenvolvidos nos EUA e no Brasil.
Na segunda parte, alguns exemplos mais recentes e relacionados a situação e destino de lixo no Brasil e nos EUA serão discutidos. 
• Problemas com a saúde e segurança dos catadores de lixo e trabalhadores com material reciclado.


Aqui um desabafo do autor refere-se aos problemas que envolvem a saúde e a segurança da população que trabalha nesta área em razão de programas inadequados de reciclagem de materiais. Esse tema é muito complexo e, por essa razão serão apresentados apenas alguns comentários. Para tanto recorre-se a algumas fotos que revelam a complexidade do problema.

As emoções do autor ao tirar a foto acima, eram e ainda hoje são de tristeza e frustração e do pouco que se pode contribuir para a redução deste tipo de acontecimento, que deriva de viver em uma sociedade que não consegue reduzir a pobreza da população e que estimula situações como essa dos garotos.

Cena dentro de uma cooperativa de reciclagem de materiais em
São Paulo, registrada pela Dra. Mariana Maleronka Ferron.

Nesta segunda foto, os membros da cooperativa podem ser vistos manipulando vários tipos de lixo e resíduos. Aqui também, as emoções do autor ao ver a foto acima são de tristeza e frustração.

A Dra. Mariana Maleronka Ferron defendeu a tese Saúde, trabalho e meio ambiente: exposição a metais em catadores de materiais recicláveis na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 




Algumas de suas conclusões são citadas abaixo:

“Os resultados encontrados apontam para uma maior exposição ao cádmio relacionada ao trabalho exercido pelos catadores de material reciclável.”
“Os catadores de material reciclável apresentam maiores níveis de exposição ao chumbo quando comparados com a população geral; porém, a relação com o trabalho pode não ser a causa principal. Os resultados encontrados podem ter uma relação direta com a maior proporção de tabagistas nessa população e com a condição socioeconômica desses trabalhadores.”
“Os níveis de mercúrio encontrados não apontam para uma diferença de exposição entre os catadores e a população geral, o que pode ter relação com as atividades educativas que vêm sendo exercidas nas cooperativas por diferentes associações.”
“Conforme discutido na Introdução desse estudo, o trabalho de catadores tem demonstrado um alto potencial inclusivo, não apenas em relação à renda, mas também no exercício da cidadania, e mais especificamente na recuperação da dignidade, da autoestima e do sentido de pertencimento social.”

Como se pode perceber a partir dos comentários anteriores do autor, e não negando ou minimizando a última afirmação da Dra. Mariana Maleronka Ferron, o autor acredita que os processos existentes de coleta e separação de material reciclável, incluindo o atual sistema de projetos cooperativos de reciclagem realizados na cidade de São Paulo, não podem ser considerados suficientes para resolver os difíceis problemas de reciclagem de materiais e, principalmente melhorar as condições de vida dos cidadãos.
Em relação a esse aspecto, vale resgatar algumas informações adicionais referente a uma outra grande cidade: NEW YORK CITY.

  • Destino final do lixo em New York City

Ao cavar fundo em suas memórias, foi possível o autor lembrar que grande parte do lixo de NYC, até meados do século XX, foi simplesmente colocado em uma barcaça e jogado no Oceano. Fora da vista, longe da mente! Não é difícil imaginar o que aconteceu com a vida marinha e a qualidade da água devido a essa destinação de resíduos. Esse tipo de procedimento que foi utilizado por muitas cidades em todo mundo pode ter contribuído da forma significativa com a formação de uma grande mancha de lixo no Pacífico observada a partir de 1997. Nova York provavelmente foi apenas uma das muitas grandes cidades que usaram esse método para resolver seu problema de resíduos sólidos. Informações disponíveis na internet e as memórias mais recentes, como citadas na parte 1 do artigo, revelam que esse tipo de procedimento mudou, pelo menos para NYC, como citado abaixo:

“Hoje, a cidade de Nova York gera 14 milhões de toneladas de lixo a cada ano. O montante é tão grande que a cidade o administra através de dois sistemas separados, um público e outro privado. O sistema público trabalha com resíduos de residências e edifícios governamentais, bem como algumas organizações sem fins lucrativos. Esse “lixo público”, que responde por cerca de um quarto do total da cidade, é coletado pelo Departamento de Saneamento de Nova York (DSNY), a maior agência de gestão de resíduos do mundo com um orçamento anual de US $ 1,5 bilhão, maior que o orçamento anual de alguns países”. Para saber mais, veja o link.

  • Destino final do lixo em São Paulo

Para complementar as memórias e trazer o foco para os dias atuais, é interessante acrescentar algo sobre a destinação do lixo no Brasil. Observa-se no Brasil uma prática muito errada, mas muito comum, ou seja, os municípios brasileiros dispensam seus resíduos em lixões, a céu aberto, nas periferias, onde o lixo apodrece ou é queimado e, também, onde muitas pessoas ainda garimpam materiais para reciclagem, sem nenhum controle de segurança a sua saúde. Devido à falta de recursos, muitas prefeituras não conseguiram atender a legislação (Lei 12.305/2010) que determinou o fim dos lixões para 2014 e, em razão disso o Senado aprovou a prorrogação do prazo para 2021. O Ministério do Meio Ambiente estima que 59% dos municípios brasileiros ainda dispõem seus resíduos a céu aberto ou em aterros controlados, que seriam lixões com cobertura precária.

O estado de São Paulo, possui 27 prefeituras que despejam seus resíduos em local inadequado. Outras transportam seus resíduos por até mais de 200 km para serem dispensados em aterros.

Na cidade de São Paulo, são geradas diariamente 20 toneladas de lixo, sendo que 12 toneladas correspondem a resíduos domiciliares. O sistema de coleta beneficia uma população de 11 milhões, percorrendo uma área de 1523 km², empregando 3.200 pessoas e utilizando 500 veículos. O lixo não reciclável da capital paulista é destinado a dois aterros – um em São Matheus e outro em Caieiras – onde foram criadas usinas para transformar o biogás formado no aterro em energia elétrica.

Os custos são muito altos e por esse motivo, a SABESP vem acalentando a ideia de ampliar sua área de atuação e desenvolver tecnologia de geração de energia a partir da queima do lixo. A SABESP procura diminuir o impacto do lixo nos aterros sanitários, mas principalmente preservar a água do subsolo em volta dos aterros. A conversão de lixo em energia poderá proporcionar grande economia para SABESP, que em 2016 teve um gasto de R$ 935 milhões com energia elétrica.

Pela experiência, pode-se concluir que a reciclagem do lixo realizada de forma correta se apresenta como uma solução viável economicamente, além de contribuir com as melhorias ambientais e sociais. Ao escrever esse artigo o autor procurou dar uma pequena contribuição para a discussão sobre o tema, demonstrando que apesar de difícil e complexo é preciso que sua análise seja aprofundada, particularmente por pessoas e grupos especializados em trabalhos ambientais.



Autor: David Charles Meissner

É dono da DCMEvergreen – Environmental Consulting Services.

Formado em Química na Michigan State University, East Lansing (Mi USA)

Mestrado em Química Orgânica pelo ITA-CTA, S.J. dos Campos, SP – Brasil.



Nenhum comentário:

A BIOTRAKTI é uma empresa paulista, situada no Vale do Paraíba, que atua em todo o Brasil, no segmento de engenharia, projetos, consultoria, e serviços de tratamento de água, efluentes industriais e resíduos sólidos em geral.

A BIOTRAKTI está capacitada para criar soluções de engenharia, de meio ambiente e operacionais, em atendimento às metas ambientais de sua empresa.