quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Situação do Tratamento de Esgoto Sanitário no Brasil.

Faremos hoje uma breve abordagem da questão do esgotamento sanitário no Brasil. Assunto que merece especial atenção por fazer parte do saneamento básico deste país que traz desde suas raízes, extenso histórico de mazelas contra seu povo, em todos os aspectos, incluindo os de cunho ambiental e de saúde pública. Esse tema começou a tomar importância no país durante o processo de urbanização ao longo do século XX, quando as políticas adotadas em prol do mercado imobiliário criaram multidões de excluídos que foram empurradas para os morros e barrocas de cidades e capitais como Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belém, Manaus e outras tantas.

Desde então, grande parte dessa periferia tem sobrevivido sem os benefícios do esgotamento sanitário, ou seja, sem qualquer sistema de coleta ou tratamento de esgotos. Sem as redes coletoras, estações elevatórias e de tratamento, todo o esgoto produzido nas periferias flui a céu aberto em pequenos rios e córregos que se transformam em valetas fétidas e contaminadas.




Para se ter uma noção mais ampla da situação, a figura acima mostra como estávamos no ranking, no momento da virada do século, em comparação com os principais países das américas e Caribe. A cobertura da população total com esse serviço variou de 0% no Haiti a 76,8% nos Estados Unidos. Entre os países indicados, apenas Colômbia, Estados Unidos e Chile passaram da cobertura de 60% da população. O Brasil vinha bem atrás. Outra agravante para a situação geral era o baixo nível de tratamento das águas residuárias coletadas que não passava de 10%. – Veja mais em POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL, do Ministério das Cidades.

Devido as políticas equivocadas, até então adotadas pelas instituições governamentais e empresariais, as ações de saneamento básico não foram suficientes para atender a todos com o seu propósito maior, que é o de promover a saúde pública. Conforme escreve a professora Ermínia Maricato em seu artigo “Urbanismo na Periferia do Mundo Globalizado – metrópoles brasileiras”: logo que o crescimento econômico desacelera e chega a recessão dos anos 1980/90 – quando as taxas de crescimento demográfico superam as do crescimento do PIB – vem um forte impacto social e ambiental que amplia o universo de desigualdade social. Surgem daí as zonas não alcançadas pelo planejamento urbano, com seus dramas maiores, a exemplo da falta de esgotamento sanitário e o consequente impacto na saúde pública.

Esse “consequente impacto na saúde pública” ou outro qualquer como o aumento da violência por exemplo, é aquilo que os economistas chamam de “custos de oportunidade”, que nada mais são que as consequências do abandono das demais oportunidades que deveriam ser contempladas. No caso do saneamento básico, ou mais especificamente, do esgotamento sanitário, que é o tema em pauta, os governos do século XX optaram pelo planejamento urbano para os ricos, sem priorizar o social. Daí o nó veio arrebentar principalmente na saúde, que é fortemente afetada pelas doenças de veiculação hídrica.

Vejamos! Segundo o DATASUS do Ministério da Saúde, em 2013 o país teve mais de 340 mil internações por infecções gastrointestinais e 49,8 milhões de dias de afastamento do trabalho devido diarreia e vômito. Se toda a população fosse atendida pela coleta de esgotos, estima-se uma redução de 74,6 % em termos absolutos. Em 2015, o custo com horas não trabalhadas chegou aos 872 milhões de reais. Estes foram alguns dos principais custos de oportunidade das escolhas políticas adotadas para as questões ambientais no passado. A propósito, diz-se que cada 1 real investido em saneamento economiza 4 reais com gastos na saúde.

Apenas em 2015 -  informa o Instituto Trata Brasil - nossa população alcançou os 50,3% de acesso à coleta de esgoto e, do coletado, apenas 42% desse efluente recebeu algum tipo de tratamento antes de seu descarte no meio ambiente; ou seja, quase nada mudou! Portanto é possível prever os resultados para os próximos anos.

Outro fato a ser considerado é a privatização de nossas águas. Também denominado concessão do saneamento básico, esse processo se iniciou em 1990 e vem se intensificando até chegar aos dias atuais. Ocorre que se a universalização dos serviços perderem em prioridade para o lucro das empresas privadas, se a gestão não for eficiente e não houver uma fiscalização moderna e justa, poderemos estar fadados ao fracasso, a exemplo de alguns países que já sentiram os impactos negativos desse tipo de política ambiental. Para ilustrar vamos lembrar da “Guerra da Água” que causou a morte de mais de 70 pessoas em Cochabamba no ano de 2000, numa clara revolta contra as altas tarifas cobradas pela empresa americana Bechtel na época.

Todos nós devemos saber que os resultados sociais dependem diretamente da seriedade dos contratos feitos entre nossos governos e as empresas privadas do setor. Atualmente são 17 milhões de brasileiros atendidos em 12 estados pela canadense Bookfield, que adquiriu o negócio da Odebrecht Ambiental numa transação de quase 3 bilhões de reais. Muitas outras empresas estão de prontidão para também terem sua fatia de mercado aqui no Brasil e o BNDES está preparando uma fila de 18 estados para entrarem em negociação, conforme informa o cientista social Dr. Flávio José Rocha da Silva em artigo publicado no site do Fórum Mundial Alternativo das Águas.

Então!? Como universalizar a mais defasada questão do nosso saneamento básico? Como resolver essa grande e histórica dívida social? Como fazer os projetos socioambientais evoluírem? Onde estará a resposta? - Estará na criação e implementação de projetos modernos e eficientes, geridos e fiscalizados sem indícios de corrupção pelas nossas entidades governamentais? Estará na participação mais efetiva da sociedade civil com suas ONGs ambientais gerando novas estratégias para melhoria da qualidade de vida e acompanhamento das atividades dos órgãos competentes nas questões ambientais?  

Certamente! Será necessária muita seriedade de todos para que o Brasil funcione como precisa. Serão necessárias políticas públicas coerentes com as metas ambientais para que o país possa desfrutar da expansão do saneamento num futuro próximo. E olha que com apenas 50,3% de acesso à coleta de esgoto, há muito o que se fazer para chegar lá!

Autor: José Leonardo Cardoso

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