quarta-feira, 26 de julho de 2017

Os Dejetos Humanos Através dos Tempos.

The Toilet of the Future - Digg
A partir do momento em que o ser humano deixa de viver como nômade e se fixa em aldeias e cidades, se vê obrigado a encarar os problemas relacionados à disposição dos dejetos que se acumulam. Isso se deu por volta de 4.000 a.C. Desde então nossas ações giram em torno de afastar os excrementos -  enterrando-os, espalhando-os pelos campos ou despejando-os nos rios – ou de utilizá-los de alguma forma, evitando assim que os patógenos sejam atraídos pelos nutrientes neles contidos e venham ameaçar nossa saúde.

Na mitologia grega, encontramos Hércules desviando um curso d’água para dentro dos estábulos do rei Augias para remover o estrume para os campos e fertiliza-los para a agricultura. Esse é um dos primeiros registros da preocupação humana com o tema e a partir daí cada civilização a seu tempo, faz surgir novas ideias e novas tecnologias para a gestão de seus resíduos e águas servidas.

No livro “LIXO – A Limpeza Urbana Através dos Tempos” de Emílio Maciel Eigenheer, podemos acompanhar toda a cronologia do assunto, que é apresentado de forma interessante e em fácil leitura.  Dele destacamos e apresentaremos resumidamente, as principais citações referentes ao nosso tema.

Eigenheer informa que há registros de que na antiguidade, os sumérios já conheciam toaletes e canos de barro. Os babilônicos construíram canais murados que interligavam as casas, para captação das águas servidas. Seus sucessores, os assírios desenvolveram sistemas de canalização com tijolos queimados para captação de águas de chuva e águas servidas e nas escavações do palácio do rei Sargão (2048-30 a.C.) foram encontradas toaletes com assentos. Os fenícios levaram esses conhecimentos aos gregos.

Segundo Hösel, em escavações nas antigas cidades Indus de cultura harapa, foram encontrados canais subterrâneos para captação de esgoto e, em casas com mais de um andar, foram encontrados tubos de queda que levavam resíduos para grandes cântaros de barro, que provavelmente seriam esvaziados por algum serviço organizado.

O Egito, desde 3.000 a.C., utilizava sistemas de irrigação para aproveitar as águas das inundações do rio Nilo e supõe-se que esses mesmos canais também eram utilizados para coleta das águas servidas e que eram mantidos por prisioneiros.

Quanto aos israelitas, enquanto nômades, já tinham regras claras para manter a higiene dos acampamentos, como pode-se verificar em Deuteronômio 23:13-15: “Deverás prover um lugar fora do acampamento para as tuas necessidades. Junto com teu equipamento tenhas também uma pá. Quando saíres para fazer as tuas necessidades, cava com ela, e, ao terminar, cobre as fezes...”. Com o desenvolvimento da vida urbana, foram sendo construídos em Jerusalém, canais para o escoamento de águas da chuva ou de esgotos, que serviam para irrigar os campos situados abaixo.

Na antiga Grécia, há indicações de que no palácio de Minos, em Cnossos, existia toalete com água corrente. Ainda de acordo com Hösel, em Atenas, por volta do séc. V a.C., havia sistema de canalização para captação de água que era muito utilizada para limpeza doméstica e corporal.

Banheiro Coletivo da Roma AntigaEm Roma, a partir do séc. II a.C., foram construídos muitos banhos públicos. No séc. IV d.C., Roma possuía 856 casas de banho e 14 termas. Em contrapartida foi se desenvolvendo um sistema de escoamento das águas servidas através de uma rede de canais que desembocava no rio Tibre. Até hoje existe um trecho de um desses canais, a famosa Cloaca Máxima, cuja construção no séc. III a.C. é atribuída a Tarquinus Priscus, o quinto rei de Roma.

Inicia-se a idade média, após a queda do império romano e destruição de muitas cidades situadas ao norte dos Alpes até o século V. Passam-se 500 anos sem se dar importância as cidades e a situação de higiene deixava muito a desejar. São os conventos que conservam as práticas sanitárias nesse período, a exemplo do Convento de St. Gallen, no séc. IX. Nos burgos, a única ação plausível era a eliminação de águas servidas para além das muradas ou para os fossos. O costume de se armazenar dejetos humanos e animais defronte às casas passa a ser um complicador. Ainda no século XIV são muitos os esforços de caráter administrativo, no sentido de eliminar tais práticas. Mais tarde, Leonardo da Vinci (1452-1519) também manifesta sua preocupação com o saneamento das cidades durante o Renascimento. Chegando aos séculos XVI e XVII, eram poucas as cidades que tinham um sistema de canalização para as águas servidas. A precariedade dessa época foi registrada por Vitor Hugo com respeito a Paris.

No fim da Idade Moderna, a partir de 1740, os grandes centros europeus começaram a cuidar da limpeza urbana, drenagem e canalização subterrânea dos esgotos. A exemplo, Paris cria um pacote de medidas de 1750 a 1780 que incluem a retirada de entulho acumulado defronte as residências, recuperação de locais inundados e obstruídos e proibição de esvaziar penicos nas ruas.

Os melhoramentos mais significativos só ocorreram na segunda metade do século XIX, e foram alavancados pela Revolução Industrial e pela teoria microbiana das doenças que deu importância à qualidade da água e estabeleceu a necessidade de se separar esgoto de resíduos sólidos.

Ainda em 1858, os londrinos jogavam seus dejetos nas valas de escoamento de água da chuva das ruas, indo tudo para no Tâmisa que ganhara o apelido de “Big Stink”, quando o engenheiro urbano Joseph Bazalgette cria uma rede futurista, com canos largos em todo o subterrâneo de Londres, pensando no crescimento da cidade. Nesse período, no Brasil, os escravos ainda transportavam os excrementos humanos em tonéis de madeira até local afastado das residências, rios ou praias, quando em 1864 a “The Rio de Janeiro City Improvements Company Limited” implanta um sistema de esgotamento sanitário na área central do Rio de Janeiro.

Assim, a passos lentos, as soluções de esgotamento sanitário vão se multiplicando nas cidades dos muitos países dos vários continentes do globo durante o século XX até chegar aos dias atuais, ainda sem alcançar sua universalização. Enquanto alguns países como a Alemanha, Suíça e Holanda vêm se destacando com soluções inovadoras para o saneamento de suas cidades, outros tantos ainda carecem de recursos e soluções apropriadas para essas mesmas questões.

Autor: José Leonardo da Silva Cardoso.

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