A partir do momento em que o ser humano deixa de viver como nômade e se fixa em aldeias e cidades, se vê obrigado a encarar os problemas relacionados à disposição dos dejetos que se acumulam. Isso se deu por volta de 4.000 a.C. Desde então nossas ações giram em torno de afastar os excrementos - enterrando-os, espalhando-os pelos campos ou despejando-os nos rios – ou de utilizá-los de alguma forma, evitando assim que os patógenos sejam atraídos pelos nutrientes neles contidos e venham ameaçar nossa saúde.
Na mitologia
grega, encontramos Hércules desviando um curso d’água para dentro dos estábulos
do rei Augias para remover o estrume para os campos e fertiliza-los para a
agricultura. Esse é um dos primeiros registros da preocupação humana com o tema
e a partir daí cada civilização a seu tempo, faz surgir novas ideias e novas
tecnologias para a gestão de seus resíduos e águas servidas.
No livro “LIXO
– A Limpeza Urbana Através dos Tempos” de Emílio Maciel Eigenheer, podemos
acompanhar toda a cronologia do assunto, que é apresentado de forma
interessante e em fácil leitura. Dele
destacamos e apresentaremos resumidamente, as principais citações referentes ao
nosso tema.
Eigenheer informa
que há registros de que na antiguidade, os sumérios já conheciam toaletes e
canos de barro. Os babilônicos construíram canais murados que interligavam as
casas, para captação das águas servidas. Seus sucessores, os assírios
desenvolveram sistemas de canalização com tijolos queimados para captação de
águas de chuva e águas servidas e nas escavações do palácio do rei Sargão
(2048-30 a.C.) foram encontradas toaletes com assentos. Os fenícios levaram
esses conhecimentos aos gregos.
Segundo Hösel,
em escavações nas antigas cidades Indus de cultura harapa, foram encontrados
canais subterrâneos para captação de esgoto e, em casas com mais de um andar,
foram encontrados tubos de queda que levavam resíduos para grandes cântaros de
barro, que provavelmente seriam esvaziados por algum serviço organizado.
O Egito, desde
3.000 a.C., utilizava sistemas de irrigação para aproveitar as águas das
inundações do rio Nilo e supõe-se que esses mesmos canais também eram utilizados
para coleta das águas servidas e que eram mantidos por prisioneiros.
Quanto aos
israelitas, enquanto nômades, já tinham regras claras para manter a higiene dos
acampamentos, como pode-se verificar em Deuteronômio 23:13-15: “Deverás prover
um lugar fora do acampamento para as tuas necessidades. Junto com teu
equipamento tenhas também uma pá. Quando saíres para fazer as tuas
necessidades, cava com ela, e, ao terminar, cobre as fezes...”. Com o
desenvolvimento da vida urbana, foram sendo construídos em Jerusalém, canais
para o escoamento de águas da chuva ou de esgotos, que serviam para irrigar os
campos situados abaixo.
Na antiga
Grécia, há indicações de que no palácio de Minos, em Cnossos, existia toalete
com água corrente. Ainda de acordo com Hösel, em Atenas, por volta do séc. V
a.C., havia sistema de canalização para captação de água que era muito
utilizada para limpeza doméstica e corporal.
Em Roma, a
partir do séc. II a.C., foram construídos muitos banhos públicos. No séc. IV
d.C., Roma possuía 856 casas de banho e 14 termas. Em contrapartida foi se
desenvolvendo um sistema de escoamento das águas servidas através de uma rede
de canais que desembocava no rio Tibre. Até hoje existe um trecho de um desses
canais, a famosa Cloaca Máxima, cuja construção no séc. III a.C. é atribuída a
Tarquinus Priscus, o quinto rei de Roma.
Inicia-se a
idade média, após a queda do império romano e destruição de muitas cidades
situadas ao norte dos Alpes até o século V. Passam-se 500 anos sem se dar
importância as cidades e a situação de higiene deixava muito a desejar. São os
conventos que conservam as práticas sanitárias nesse período, a exemplo do
Convento de St. Gallen, no séc. IX. Nos burgos, a única ação plausível era a
eliminação de águas servidas para além das muradas ou para os fossos. O costume
de se armazenar dejetos humanos e animais defronte às casas passa a ser um
complicador. Ainda no século XIV são muitos os esforços de caráter
administrativo, no sentido de eliminar tais práticas. Mais tarde, Leonardo da
Vinci (1452-1519) também manifesta sua preocupação com o saneamento das cidades
durante o Renascimento. Chegando aos séculos XVI e XVII, eram poucas as cidades
que tinham um sistema de canalização para as águas servidas. A precariedade
dessa época foi registrada por Vitor Hugo com respeito a Paris.
No fim da Idade
Moderna, a partir de 1740, os grandes centros europeus começaram a cuidar da
limpeza urbana, drenagem e canalização subterrânea dos esgotos. A exemplo,
Paris cria um pacote de medidas de 1750 a 1780 que incluem a retirada de
entulho acumulado defronte as residências, recuperação de locais inundados e
obstruídos e proibição de esvaziar penicos nas ruas.
Os
melhoramentos mais significativos só ocorreram na segunda metade do século XIX,
e foram alavancados pela Revolução Industrial e pela teoria microbiana das
doenças que deu importância à qualidade da água e estabeleceu a necessidade de
se separar esgoto de resíduos sólidos.
Ainda em 1858,
os londrinos jogavam seus dejetos nas valas de escoamento de água da chuva das
ruas, indo tudo para no Tâmisa que ganhara o apelido de “Big Stink”, quando o
engenheiro urbano Joseph Bazalgette cria uma rede futurista, com canos largos
em todo o subterrâneo de Londres, pensando no crescimento da cidade. Nesse
período, no Brasil, os escravos ainda transportavam os excrementos humanos em
tonéis de madeira até local afastado das residências, rios ou praias, quando em
1864 a “The Rio de Janeiro City Improvements Company Limited” implanta um
sistema de esgotamento sanitário na área central do Rio de Janeiro.
Assim, a passos
lentos, as soluções de esgotamento sanitário vão se multiplicando nas cidades
dos muitos países dos vários continentes do globo durante o século XX até
chegar aos dias atuais, ainda sem alcançar sua universalização. Enquanto alguns
países como a Alemanha, Suíça e Holanda vêm se destacando com soluções
inovadoras para o saneamento de suas cidades, outros tantos ainda carecem de
recursos e soluções apropriadas para essas mesmas questões.
Autor: José Leonardo da Silva Cardoso.
Autor: José Leonardo da Silva Cardoso.
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