Um dos pilares fundamentais do tratamento biológico é a sedimentação. Por isso seu desempenho depende muito da qualidade da estrutura do lodo formado. Entretanto, o processo de tratamento - mais especificamente, referente ao sistema de lodo ativado - está sujeito a uma infinidade de fatores que podem causar instabilidade na formação e agregação dos flocos bacterianos e prejudicar o processo de tratamento de alguma forma.
Um desses fatores que impactam de maneira
significativa e que tem sido pesquisado há um bom tempo é a salinidade dos
efluentes que pode interferir na floculação e reduzir a eficiência da
sedimentação e do desaguamento do lodo.
Os flocos do lodo ativado normalmente são interligados
por pontes formadas por substâncias poliméricas extracelulares (SPE) produzidas
pelas próprias células bacterianas. SPONZA (2003) apud
A salinidade existente no efluente, representada principalmente
pelos cátions sódio, potássio, cálcio e magnésio, exerce grande influência no
processo de formação e sedimentação dos flocos. Esses cátions podem tanto atuar
no interior do floco, quanto na formação de pontes entre as extremidades
negativas dos biopolímeros extracelulares. E sua influência pode ser positiva
ou negativa. Vai depender muito da
concentração e do tipo de cátion.
Quanto aos cátions bivalentes, sugere que estes
participam na formação de pontes entre as extremidades negativas dos
biopolímeros, promovendo crescimento do floco, maior densidade e resistência ao
cisalhamento. Todas essas condições resultam em melhor sedimentação da biomassa.
Os pesquisadores observaram também que a razão
monovalente-divalente (M/D) e a concentração de cátions exercem grande
influência nas propriedades de sedimentação e desaguamento dos lodos ativados. Esse
é um ponto muito importante no estudo da influência dos cátions. Mais especificamente
para o sódio e cálcio - a razão M/D maior que 2 implica na deterioração das
propriedades de desaguamento.
Outro fator a ser considerado é a variação da
salinidade no efluente. De certa forma, se não houver muita oscilação do
ambiente iônico, as bactérias e os SPEs conseguem se aclimatar e formar flocos
num nível mais alto de condutividade.
Segue, apresentação de uma situação de persistente instabilidade encontrada na ETE de uma fábrica de celulose e papel que pode estar bastante relacionada com problemas de salinidade.
Nesta, o lodo biológico se constituía de flocos de
baixa densidade e pulverizados, que produziam um efluente tratado turvo. A
sedimentação não melhorava nem com a dosagem de polímero nos clarificadores. O
desaguamento também estava prejudicado devido a má qualidade do lodo excedente.
Foram feitas amostragens dos reatores para as análises
de rotina (tabela 1) e para análises extras das mesmas amostras (tabela 2). As
análises extras foram realizadas em absorção atômica de chama para determinação
da concentração dos cátions Na, K, Ca e Mg.
Atualmente, a empresa faz um
controle melhor da salinidade de seu efluente pelo monitoramento da
condutividade. Dessa forma, conseguiu aclimatar, de maneira satisfatória, seu
tratamento biológico para suportar a toxicidade e as cargas poluentes existentes
no efluente com até 5.000 µS/cm de condutividade. E ainda mais importante,
consegue reduzir as variações significativas da condutividade no efluente
bruto.
José
Leonardo da Silva Cardoso
Diretor Técnico da Biotrakti
WhatsApp +55 12 98230-1037
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