sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Caminhos para Modernização do Saneamento Básico no Brasil

Lentidão, queda de investimentos e falta de diálogo continuam prejudicando o desenvolvimento do Plano Nacional de Saneamento Básico. Se permanecer nesse ritmo, o país só vai universalizar esses serviços daqui a cinco ou seis décadas. É bem provável que muitos de nós não estejamos mais aqui para ver!

Além da costumeira ineficiência do Estado e da falta de diálogo do atual governo com os setores envolvidos, temos pela frente as incertezas das ações do próximo governo que assume o poder no ano novo.

Veja o lance mais recente no tabuleiro do saneamento. No último dia 22, a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, comunicou o término do prazo integral de vigência da Medida Provisória nº 844 de 2018, que expirou em 19/11/2018.

A MP 844, que fora editada em julho pelo Presidente da República Michel Temer, alterava o marco legal do saneamento básico no país (Lei 11.445, de 5 de janeiro de 2007). Entre as principais mudanças propostas, tornava a ANA uma agência reguladora federal do saneamento básico. Hoje, conforme reza a Constituição, esse serviço é uma atribuição dos municípios.

Mas o que mais causou polêmica foi a proposta de alteração na forma de concorrência entre as companhias públicas e privadas. Alguns analistas do setor dizem que perdemos uma grande oportunidade de obter mais investimento de recursos, porém outros reconhecem que faltou diálogo por parte de nosso governo que deveria ouvir e fazer acordo com todos os envolvidos antes de apresentar qualquer proposta.

Essa falta de diálogo provocou a resistência dos trabalhadores do setor, da sociedade civil e dos gestores, fazendo com que 24 governadores assinassem uma carta cobrando espaço para negociação. Veja mais detalhes no link. Foi uma resposta firme e serve de sinal para que o novo governo trate do assunto de maneira mais aberta e dialogue com todas as partes interessadas.

Entretanto, todos nós sabemos da urgente necessidade de se ampliar os investimentos em serviços de água e esgoto no país. Ainda temos 35 milhões de pessoas sem acesso a água tratada. A coleta de esgoto ainda não alcançou metade da população e apenas 45% do esgoto coletado é tratado.

Em julho, a Confederação Nacional da Indústria entregou aos candidatos à Presidência da República, um estudo denominado “Saneamento Básico: Uma agenda regulatória e institucional”, onde foram abordadas a insuficiência e baixa qualidade dos serviços de água e esgoto,  a universalização dos serviços e a redução dos custos sociais, a depreciação das redes de saneamento, a gestão ineficiente das companhias e a necessidade de melhoria regulatória e institucional para ampliar os investimentos e a qualidade dos serviços.

A CNI afirma que para alcançar as metas do Plansab, o país precisa ampliar os investimentos do setor em 62%, passando da atual média anual dos recursos de R$ 13,6 bilhões para R$ 21,6 bilhões. O estudo é finalizado com 11 recomendações que passam pelo ajuste das diretrizes regulatórias, regulamentação do reuso de água, revisão do Plansab, expansão das concessões do BNDES, simplificação do processo de licenciamento ambiental para o setor de água e esgoto, simplificação do processo de liberação dos recursos do FGTS, entre outros.

É interessante observar que o Ministério das Cidades reduziu de 6 para 4 bilhões a verba do FGTS disponível para projetos de saneamento básico nesse ano, conforme noticiou a coluna Mercado Aberto da Folha de São Paulo no último dia 28. O motivo é que não será possível usar todo o capital disponível para o ano, primeiro porque as empresas privadas precisam encarar um processo burocrático demais para captação de recursos do FGTS e depois porque as companhias públicas têm baixa capacidade de captação e enfrentam dificuldades de pagamento.

Percebe-se aí a clara necessidade de mudança na governança pública para destravar o andamento de novos projetos de expansão das redes de saneamento e otimizar a utilização dos recursos disponíveis. Por outro lado, as companhias públicas, tanto municipais quanto estaduais, precisam superar a dificuldade que encontram no desenvolvimento dos projetos básicos iniciais.

Quanto à questão do investimento privado, motivo de maior polêmica e que tirou a MP 844 do jogo, poderia ser repensada e discutida com a sociedade, com os governos e com o setor produtivo.  Vale registrar comentário do gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria, Davi Bomtempo, durante o Rio Water and Business, evento realizado no Centro de Convenções Riocentro/RJ, entre os dias 26 e 28 deste mês, onde ele diz: “Eu não falaria em privatização, mas em uma abertura para o capital privado, que trabalhe de forma complementar e articulada com o setor público”.

São muitas as variantes que precisam de ajuste para alavancar o Plansab. No momento, aguardamos a definição dos representantes do novo governo. A escolha do Ministro do Meio Ambiente ainda não foi comunicada pelo Presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). É bom lembrar, que durante a campanha política, Bolsonaro não mencionou a ampliação do saneamento em seu plano de governo. Porém toda a sociedade acredita no bom senso e espera que as tratativas que não deram certo nos últimos governos sejam deixadas de lado em benefício da modernização do saneamento.

 José Leonardo da Silva Cardoso
Diretor Técnico da Biotrakti



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