Introdução
No artigo “Controle de Sólidos em
Sistema Aeróbio de Lodo Ativado” publicado nesse blog em 15/04/2015, nós vimos
que “lodo ativado” são os flocos
produzidos no esgoto pelo crescimento de bactérias na presença de oxigênio
dissolvido. Depois de retornados aos reatores biológicos, esses flocos depuram
ainda mais matéria orgânica existente no esgoto e a sedimentam como lodo no
decantador secundário. É nesse processo que a biomassa do sistema normalmente
aumenta, retendo e reduzindo a matéria orgânica poluente para liberar o
efluente adequadamente tratado para o meio ambiente. Porém, em diferentes
momentos do processo surgem variáveis que, por sua natureza, podem ficar fora
de controle e então alterar substancialmente as características morfológicas e microbiológicas
do lodo.
Por ser composto em grande parte
por bactérias vivas, o floco do lodo ativado é sensível a variações bruscas,
tais como oscilações nas quantidades de poluentes que entram na ETE (demandas
química e bioquímica de oxigênio), aumento da toxidade, aumento de carboidratos
de fácil biodegradação, variações na temperatura, no pH, entre muitas outras. Essas
mudanças nas condições ambientais, provocadas pela composição do afluente ou
por problemas operacionais da estação, irão interagir na biomassa que o recebe
e consequentemente alterar a qualidade e quantidade dos elementos que
constituem o floco. Tais mudanças poderão interferir na matriz de
polissacarídeos, diminuir ou aumentar a população de bactérias formadoras de
flocos ou de filamentosas, ou mesmo prejudicar o processo de adesão das
partículas coloidais da biomassa.
Essas alterações estruturais do material biológico acabam por refletir nas características de sedimentação e adensamento do lodo no decantador secundário, vindo a prejudicar a separação e clarificação do efluente final. Daí a importância da avaliação microscópica do lodo ativado, para definição das possíveis causas das dificuldades na separação do lodo formado e ajuste adequado do sistema operacional.
- O que é avaliação microscópica do lodo ativado?
Resumidamente, podemos dizer que
é a avaliação das características de formação do floco biológico, tais como tamanho,
firmeza, formato e compactação, juntamente com a identificação e quantificação
das bactérias filamentosas, protozoários e metazoários encontrados no meio.
Apesar da avaliação microscópica
do lodo ser uma ferramenta ainda não tão conhecida no Brasil, em alguns países
ela é considerada indispensável para sistemas de lodo ativado que atendam a
mais de 10.000 habitantes, como na Alemanha, por exemplo. Isso ocorre devido ao reconhecimento de sua
importância na verificação das condições operacionais e avaliação de eficiência
do sistema.
- Como é feita a avaliação microscópica do lodo ativado?
A avaliação normalmente é feita
em microscópio biológico calibrado utilizando-se de uma amostra fresca, coletada
próxima a saída do tanque de aeração. O objetivo é caracterizar a estrutura do
material biológico, investigando o tamanho, formato e grau de compactação dos
flocos, e identificar os micro-organismos predominantes.
A esses dados
microscópicos, são juntados os parâmetros físicoquímicos (quantidade de sólidos
no tanque de aeração, índice volumétrico de lodo, pH, DBO, etc) para serem
relacionados a eficiência do processo.
É importante dizer que essas
ferramentas juntas são o carro chefe do verdadeiro controle de processo de um
sistema de lodo ativado, seja para uma estação de tratamento de efluente doméstico
ou industrial.
No próximo artigo, abriremos mais
o leque para abordar o assunto de forma mais detalhada, onde iremos investigar
as principais características morfológicas do lodo ativado e suas causas. Feito
isso, numa terceira oportunidade, estudaremos os micro-organismos existentes e
sua função como instrumento de diagnóstico de processo.
Vale lembrar que existe vasta literatura técnica
específica em sites diversos, em livros da CETESB e outras fontes de igual
importância, como os livros de Marcos von Sperling, David Jenkins e outros. Nessas
referências, o interessado poderá absorver suficiente conhecimento teórico e
experimental para então confrontá-los com os eventos de sua rotina profissional
e desenvolver um melhor controle de sua estação.
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