sábado, 29 de abril de 2017

Ocorrência do Bulking Viscoso e Suas Causas.

Em artigo denominado “Controle de Sólidos em Sistema Aeróbio de Lodo Ativado” abordamos as principais características básicas do lodo ativado e suas interações com os indicadores de processo. Nele vimos que a sedimentabilidade e adensabilidade do lodo no decantador secundário irão depender do desenvolvimento estrutural dos flocos, fator esse que interfere diretamente na clarificação do efluente final e na concentração do retorno de lodo.

Sendo assim, os flocos do lodo ativado poderão se desenvolver de diferentes maneiras; ora com crescimento disperso ou flocos pequenos e fracos causando muita turbidez no efluente tratado, ou poderão crescer formando espuma devido a presença de surfactante não biodegradáveis ou então, sofrer bulking (filamentoso ou não filamentoso) que irá prejudicar a compactação e a sedimentabilidade da biomassa.

Pois bem! Dentre estes problemas que ocorrem na separação do lodo ativado, temos o bulking não filamentoso, também chamado “bulking viscoso”, que definimos como tema a ser explorado neste artigo. 

Conforme relata David Jenkins et al., no “Manual on the Causes and Control of Activated Sludge Bulking and Foaming”, o bulking viscoso é causado por uma falha na microestrutura do floco, em que é produzido demasiado material extracelular que, em situação normal, contribuiria para a biofloculação. Entretanto, no bulking viscoso os micro-organismos ficam envoltos em grande quantidade de polímeros extracelulares com alta capacidade de retenção de água, que poderão conferir uma consistência gelatinosa ao lodo e reduzir sua taxa de compactação e sedimentação no clarificador secundário.

Como identificar a ocorrência do bulking viscoso?

Ainda segundo Jenkins, esses polímeros extracelulares contêm polissacarídeos que podem ser identificados e quantificados como carboidratos através do teste de anthrone, onde os carboidratos são fervidos na presença de ácido sulfúrico concentrado para formar furfurais que irão reagir com aminas aromáticas para formar coloração que podem ser medidas em espectrofotômetros.

O lodo ativado de um tratamento de efluente industrial normalmente contém de 20 a 22% de carboidratos expressos como glucose em base seca. Em vários casos de bulking viscoso, o nível de carboidratos sobe para 70%, apesar das interferências na sedimentação começarem a aparecer entre 25 e 30% de glucose. Daí a importância em mensurar a glucose.

Outro método de identificação do excesso de polímeros extracelulares é o exame microscópico do lodo tingido com uma gota de nanquim. Nesse teste, o entorno e interior do floco envolvido pelo material extracelular não serão penetrados pela tinta. A observação é feita em microscópio com contraste de fase e lente de 100X.

Não poderíamos deixar de registrar que, em laboratório é possível identificar de antemão problemas com a viscosidade do lodo ativado durante a filtração para análise de SST. A prática mostra que a colmatação do papel de filtro associada ao não excesso de filamentos no floco, são fortes indicativos de intumescimento viscoso.

Quais são as causas?

O bulking viscoso costuma ocorrer em efluentes que contêm excesso da matéria carbonácea facilmente biodegradável associado a deficiência de nutrientes, conforme Jenkins et al. (1993). Aparentemente o “limo exocelular” é produto de um crescimento desbalanceado dos micro-organismos do lodo ativado quando estes não podem produzir material celular contendo nitrogênio e fósforo devido à falta de nutrientes. Para evitar problemas, é necessário manter a concentração de ortofosfato solúvel no efluente entre 1 e 2 mg/L. Também deve-se observar sempre a relação BOD5/N/P escolhida para operar o sistema de lodo ativado convencional, por exemplo: 100/5/1 normalmente utilizada para efluente doméstico, ou outra taxa como 100/3,5/0,7 muito utilizada pela indústria papeleira. Importante também, é evitar dosagem excessiva de nitrogênio, porém há muitos outros cuidados que se deve tomar com a questão dos nutrientes. Veja mais em Nutrientes Químicos Empregados no Tratamento de Efluentes, de David Charles Meissner.

Outra causa que tem sido encontrada - em plantas de lodo ativado de efluente doméstico com alta concentração de MLSS e intensa aeração – são as altas taxas de absorção de oxigênio dissolvido. Essa alta taxa metabólica provavelmente também leva ao crescimento desbalanceado devido a impossibilidade de as bactérias obterem nutrientes tão rápido quanto possam processar a matéria orgânica.
Zoogloea ramigera

Eikelboom e van Buijsen (1981) reconhecem o termo “bulking viscoso” como “zoogloeal bulking”, isso porque a zoogloea ramigera é a mais conhecida produtora de polímeros extracelulares em efluentes. Ela é uma bactéria formadora de floco tipicamente encontrada em seletor aeróbio de lodo ativado e tem grande capacidade de sequestrar o substrato solúvel de rápida biodegradação que, se estiver em excesso juntamente com baixo fornecimento de nutrientes e baixo pH, poderá causar o bulking viscoso.  

Como controlar?

Primeiramente deverão ser monitoradas as variações da DBO afluente, SSVTA, idade do lodo, F/M, e OD para detecção de carga orgânica inadequada. A verificação da taxa de consumo de oxigênio no tanque de aeração também irá auxiliar na detecção de substâncias tóxicas.

Logo, se faz ajustes operacionais como a correção da dosagem de nutrientes para obtenção do residual de N e P desejado, a manutenção do descarte abaixo de 10% e o aumento temporário da taxa de retorno para minimizar o arraste de sólidos do decantador. Também será necessário baixar o nível de OD e continuar monitorando os lançamentos na rede de efluentes até que o problema esteja resolvido.

Quando os ajustes de processo não alcançam os resultados desejados, algumas plantas optam pelo uso de polímeros sintéticos para auxiliar na sedimentação do lodo intumescido pelo material extracelular retentor de água. O fornecedor geralmente testa diversos tipos e diferentes dosagens de polímeros e indica o mais adequado, que deverá ser utilizado sob acompanhamento frequente com jar test para detectar possíveis necessidades de ajustes da dosagem a fim de evitar excessos e perda do desempenho.

Por ora é o que tínhamos a apresentar sobre o assunto. Para encerrar esta pauta, vamos desde já deixar definido que o tema a ser explorado no próximo artigo será o “bulking filamentoso”, esse grande vilão das ETEs de lodo ativado. O texto se desenvolverá nos mesmos moldes acima apresentados para facilitar a compreensão. Também é oportuno dizer que o padrão de duas laudas utilizado para confecção de cada artigo desta coluna geralmente não é suficiente para abordar completamente o assunto da postagem, entretanto, acreditamos que o leitor interessado em saber mais poderá se direcionar melhor a partir de sua leitura.

Obrigado pela atenção e até breve!


Autor: José Leonardo S. Cardoso

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