A
Secretaria do Meio Ambiente do Estado de S. Paulo divulgou em 2012, o Caderno
de Educação Ambiental intitulado As Águas
Subterrâneas do Estado de São Paulo, onde as autoras Mara Akie Iritani e
Sibele Ezaki, do Instituto Geológico, apresentam o tema em linguagem acessível
e criteriosa. É um material de divulgação para o público em geral, com o
intuito de conscientizar o leitor e fazê-lo parceiro na proteção dos onze
principais aquíferos que abastecem quase metade do território paulista. Segundo
dados da CETESB, cerca de 80% dos municípios já utilizavam água subterrânea no
abastecimento público em 2006.
Buscando
ampliar esse leque de divulgação e conscientização, a Biotrakti se prontifica
em apresentar aos seus parceiros, uma transcrição das principais
características das duas unidades hidrogeológicas situadas na região do Vale do
Paraíba – os aquíferos: Cristalino e Taubaté. O texto completo encontra-se
disponível em www.igeologico.sp.gov.br.
O Aquífero Cristalino
O
Cristalino é um aquífero fraturado, ou seja, é formado por rochas ígneas e
metamórficas. As primeiras formaram-se pelo resfriamento do magma, como o granito
por exemplo. As metamórficas, como os gnaisses, xistos, quartzitos e
metacalcários, foram geradas quando as rochas ígneas ou sedimentares foram
submetidas a mudanças significativas de temperatura e pressão. Como são rochas
maciças e compactas, que não apresentam espaços vazios entre os minerais que as
compõem, a água circula nas fraturas formadas durante e após o resfriamento da
lava ou posteriormente à formação da rocha, decorrentes dos esforços gerados na
movimentação de placas tectônicas.
Formado há
mais de 550 milhões de anos, o Aquífero Cristalino é composto pelas rochas mais
antigas do Estado de São Paulo. Aflora na porção leste do território paulista,
em área de 53.400 km2, abrangendo cidades como Campos de Jordão, Águas de Lindóia,
Jundiaí, Tapiraí, Iporanga, dentre outras, a Região Metropolitana de São Paulo,
chegando até o litoral. Os poços que o exploram estão
concentrados nesta parte aflorante, com comportamento de aquífero livre. Estes
poços atingem, em geral, 100 a 150 metros de profundidade, uma vez que a
ocorrência de fraturas abertas ao fluxo da água tende, na maioria dos casos, a
diminuir em níveis mais profundos. Ele
se estende para oeste do Estado, abaixo da Bacia Sedimentar do Paraná, a
grandes profundidades, impossibilitando sua utilização.
No
Cristalino predomina a característica de Aquífero Pré-Cambriano, que apresenta porosidade
fissural representada apenas por fraturas na rocha. Esta unidade abrange o
norte, nordeste e sudeste do Estado de São Paulo. Sua produtividade é baixa e
bastante variável, estando condicionada à presença de fraturas abertas. A vazão
média dos poços é em torno de 5 m3/h, mas é comum encontrar poços próximos com
vazões muito diferentes devido à variação no número, tipo de abertura e conexão
das fraturas. Fernandes et al. (2005 in DAEE/IG/IPT/CPRM 2005) definiram vazões
prováveis nesta unidade, variando de 1 a 23 m3/h, com área menos produtiva na
região ao norte do Rio Paraíba do Sul, entre Campos de Jordão, Bragança
Paulista e Francisco Morato.
A
água do Aquífero Cristalino apresenta boa qualidade para consumo humano e usos
em geral. Entretanto, deve-se dar especial atenção à proteção de qualidade de
suas águas na unidade Pré-Cambriana, por ocorrer como aquífero livre em áreas
populosas e industrializadas, como na Região Metropolitana de São Paulo e na
região entre Campinas e Sorocaba. Nessas áreas, o Aquífero Cristalino é
utilizado para abastecimento complementar de pequenas comunidades em municípios
como Bananal, Jambeiro, Jarinu, Embu Guaçu e Piedade, assim como para uso
industrial, permitindo o desenvolvimento da região, apesar da limitação da
oferta de água superficial com qualidade.
O Aquífero Taubaté
Taubaté
é um aquífero sedimentar, constituído por sedimentos arenosos e argilosos depositados
pela ação dos rios, vento e mar, onde a água circula pelos poros existentes
entre os grãos minerais. Tem extensão limitada e localiza-se entre as Serras do
Mar e da Mantiqueira, no nordeste do Estado. Ocupa uma área de apenas 2.340
km2, com formato alongado, cujo eixo estende-se na direção nordeste-sudoeste,
ao longo do Vale do Paraíba.
Os
sedimentos que compõem este aquífero foram depositados há mais de 2 milhões de
anos, diretamente sobre as rochas do Aquífero Cristalino. Uma característica
marcante deste aquífero é a intercalação entre as diversas camadas de
sedimentos arenosos e argilosos, promovendo uma grande variabilidade litológica
em subsuperfície. As camadas mais arenosas, predominantes na parte basal do
aquífero, foram depositadas em ambiente fluvial e ocorrem, predominantemente, nas
regiões sudoeste, entre Jacareí e São José dos Campos, e nordeste, entre
Guaratinguetá e Lorena. Nestas porções, o aquífero possui boa produtividade, abastecendo
cidades como Jacareí, São José dos Campos, Caçapava e Lorena, e as vazões
sustentáveis recomendadas chegam até 120 m3/h por poço (Mancuso & Monteiro
2005 in DAEE/IG/IPT/CPRM 2005).
A porção
mais argilosa foi formada em ambiente lacustre e ocorre, predominantemente, na
porção central do aquífero, entre as cidades de Taubaté a Pindamonhangaba.
Nesta região, a produtividade do aquífero é baixa e as vazões recomendadas não
ultrapassam 10 m3/h por poço (Mancuso & Monteiro 2005 in DAEE/IG/IPT/CPRM
2005).
A
espessura do aquífero é variável, aumentando dos limites externos de sua área
de ocorrência para a região central, ao
longo do Rio Paraíba do Sul, onde se observam valores
entre 200 e 300 metros, podendo superar 400 metros na região de Taubaté.
Por
ser totalmente aflorante e ter comportamento livre, é recarregado pela água da
chuva que infiltra diretamente no solo, sendo, também, responsável por fornecer
água aos rios da região que atuam como áreas de descarga do aquífero, impedindo
que estes sequem na época de estiagem. A
recarga direta em toda a sua área implica em maior vulnerabilidade a cargas
poluentes lançadas na superfície do terreno e que possam infiltrar junto com a
água da chuva. Parte do aquífero, entretanto, pode ter comportamento que tende
a ser confinado devido à predominância de camadas argilosas em superfície, o
que promove certa proteção em determinadas regiões.
Este
aquífero apresenta, de forma geral, água de boa qualidade para o consumo
humano, mas, devido à alta vulnerabilidade à poluição, é necessário, também, um
esforço conjunto do governo e da sociedade para promover sua proteção.
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